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Sem beijo nem abraço: saiba como serão feitas as gravações de TV com a flexibilização da quarentena

Coisa do passado: Miguel (Tony Ramos) e Helena (Vera Fischer) prestes a se beijarem na novela "Laços de família", de 2000. (Foto: Reprodução)

Menos beijos e abraços, familiares contracenando juntos, pouquíssimos figurantes e produções gravadas em uma só locação. Essas são algumas das situações que podem se tornar regra em filmes e séries feitos durante a fase de transição entre a pandemia do coronavírus e um eventual retorno à normalidade.

Com mais de três meses de quarentena passados no Brasil, entidades e produtoras do audiovisual já discutem um retorno de gravações de séries e filmes roteirizados. Assim como já aconteceu em outros países, um protocolo de segurança e saúde no trabalho audiovisual foi lançado no último dia 12. No exterior, séries como “The Witcher”, gravada no Reino Unido, a italiana “Suburra”, ambas da Netflix, e a francesa “Voltaire, Mixte”, da Amazon Prime Video, já anunciaram que vão retomar suas atividades.

O protocolo brasileiro foi elaborado pela Associação Brasileira de Produção de Obras Audiovisuais (Apro), pelo Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp) e pelo Sindcine, Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal.

O documento prevê uma transição em três fases. Na intermediária, de flexibilização, gravações em sets passam a ser permitidas conforme regras e condutas específicas que incluem distanciamento mínimo de 1,5 metro, pausas regulares para higienização da equipe e redução de deslocamentos.

O protocolo ainda dá orientações sobre como devem ser feitos os roteiros durante este período: beijos, abraços e demais contatos físicos devem ser evitados, assim como a presença de muitos personagens em uma cena só ou em locais pequenos e sem ventilação. Também se aconselha a contratação de famílias reais para o elenco.

Presidente da Apro, Marianna Souza espera que o protocolo permita a retomada de gravações já em julho, apesar dos números de infecção do coronavírus não darem trégua no Brasil. 

“Estamos numa situação insustentável, ninguém conseguiu ter acesso a empréstimo do governo”, diz Souza sobre a necessidade de retornar. “Seguramos até onde conseguimos, mas agora os produtores têm que voltar a trabalhar, seja por uma questão de recursos, seja para não termos esvaziamento nas grades de programação.”

Para ela, os atores são o elo mais frágil dessa retomada, já que o contato físico é parte intrínseca da profissão. Há experiências lá fora em que a atriz beija uma laranja e a colagem disso é feita em pós-produção. Beijos e abraços que terão de ser reinventados. O que a gente vai rodar agora não vai ser o que a gente estava acostumado a ver”, completa a presidente da Apro.

Roteiros adaptados

Sócia e diretora executiva da O2 Filmes, Andrea Barata Ribeiro não prevê um retorno dos projetos de entretenimento da produtora até, no mínimo, outubro. Na televisão, a O2 está por trás de séries recentes como “Segunda Chamada”, em parceria com a Globo, e “Pico da Neblina”, da HBO.

“Esse retorno em outubro ou novembro será apenas no caso de projetos menores, que conseguimos simplificar”,  explica Andrea. “Tem coisas que se a pandemia não passar, não dá para fazer. Tivemos um projeto que conseguimos até adaptar o roteiro, mas se perdia tanto das cenas de ação que não valia a pena.”

Por enquanto, a O2 tem gravado apenas comerciais, em ambientes restritos, com uma equipe reduzida mantendo distanciamento físico.

Responsável por séries como “Reality Z”, da Netflix, e a inédita “Dom”, da Amazon Prime Video, a Conspiração segue funcionando remotamente.

Estamos estudando filmar dois episódios de uma série de ficção em agosto, já que o conteúdo permite que a gente faça isso com o máximo de segurança”,  afirma a CEO da Conspiração, Renata Brandão. “No mais, há projetos em desenvolvimento que poderão ser filmados no futuro. Temos seis salas de roteiro acontecendo simultaneamente”,  diz a executiva, que prevê para o segundo semestre e nos primeiros meses de 2021 um aumento na já crescente demanda por conteúdos mais fáceis de produzir remotamente, como reality shows e não-ficção.

Masterchef de volta

Na Globo, também foi criado um próprio protocolo de segurança para a retomada, que avança aos poucos.

Nas últimas semanas, temos compartilhado essas experiências e aprendizados e sobretudo o nosso Protocolo de Segurança com todas as equipes. E assim vamos avançando, até que o desdobramento da pandemia nos dê condições de confirmar próximos passos, datas e previsões”, destacou a comunicação da Globo em nota.

Na Band, o reality show MasterChef, uma das atrações mais populares da emissora, teve gravações retomadas em 16 de junho, dentro das normas globais aplicadas pelo grupo pela Endemol Shine, que licencia o formato e já o retomou na Austrália e na Espanha. Observando o distanciamento social, as bancadas dos competidores agora são separadas por 1,5 metro de distância, e um carrinho leva aos jurados os pratos criados pelos participantes.

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