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Geral Sem plano do governo para favelas, moradores e organizações se juntam para controlar contágio

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Brasil tem 13,6 milhões de pessoas morando em favelas.

Foto: Reprodução
Situação é mais comum entre negros e solteiras, e dificulta a prevenção a doença. (Foto: Reprodução)

As agitadas ruas da favela da Maré, no Rio, têm ficado mais silenciosas a cada dia, à medida que mais e mais pessoas ficam em casa, seguindo orientações de autoridades de saúde para evitar o contágio por coronavírus. Desde a terceira semana de março, o silêncio vem sendo preenchido duas vezes por semana por uma voz que sai de um carro de som e alerta, em rima e com uma batida de funk ao fundo, para os riscos da covid-19, doença provocada pelo coronavírus.

“Tá ligado no coronavírus deixa eu te passar a visão / essa doença triste que afetou nosso mundão”, diz a gravação, e prossegue para dar, também em rima, as recomendações de prevenção. A iniciativa é uma parceria da ONG Redes da Maré, do Coletivo Papo Reto, de comunicação, e da Associação de Moradores, com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A cena se repete em outras favelas do Rio, como Cidade de Deus e Rocinha, com mensagens diferentes mas que trazem sempre as mesmas orientações: evite aglomerações, fique em casa, lave as mãos.

É apenas uma de uma série de iniciativas que moradores e organizações comunitárias vêm adotando para controlar a o contágio nesses lugares, onde as condições são muitas vezes desfavoráveis. Casas com muitos moradores facilitam a contaminação e dificultam o isolamento; falta d’água, problema recorrente em lugares como o Complexo do Alemão, torna impossível lavar as mãos com frequência, como recomendam autoridades.

Em coletiva de imprensa na última sexta-feira (27), o secretário-executivo do ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, disse que favelas são “a grande preocupação” da pasta. “A nossa grande preocupação são essas comunidades, pelas dificuldades com saneamento, com acesso a água potável, a dificuldade de evitar aglomerações”, disse ele, e citou medidas que estão sendo avaliadas: hotéis, hospitais de campanha, navios.

Enquanto o poder público não oferece soluções específicas para a situação das favelas, elas juntam forças para combater o vírus como podem.

O Brasil tem 13,6 milhões de pessoas morando em favelas, segundo os institutos Data Favela e Locomotiva. Algumas delas são mais populosas do que municípios inteiros. O Complexo da Maré, por exemplo, tem uma população de 140 mil em suas 16 favelas, de acordo com a Redes da Maré.

“Tem sido difícil. A gente não está acostumado a ficar preso dentro de um apartamento. Piora mais ainda quando tem cinco, seis pessoas em casa e não tem, como em outros lugares, uma piscina, uma varanda para você se distrair”, diz a engenheira Magda Gomes, do coletivo A Rocinha Resiste.

Os grupos estão mapeando os territórios para identificar casas e regiões de mais risco, coletando doações para compra de itens de higiene, cobrando autoridades para resolverem problemas de falta de água e elaborando propostas para apresentar ao poder público. O turismo, que é comum em lugares como a Rocinha, está proibido desde a semana passada, por iniciativa das associações de moradores.

No entanto, a questão do distanciamento social segue sem uma solução clara. “A gente entra na casa de um idoso e vê que ele mora muitas vezes com cinco, seis, às vezes até sete pessoas dentro de casa. Não tem o que fazer, as pessoas não têm para onde ir. Se nós estamos fazendo nossa parte, o governo não pode fazer a dela e oferecer, por exemplo, um hotel?”, questiona Wallace Pereira, presidente da associação de moradores da Rocinha. O município do Rio estuda fazer isso, mas ainda não deu detalhes da operação.

“Nas favelas e periferias existe uma negligência histórica, serviços públicos básicos não chegam da maneira que deveriam, então a crise se amplia”, diz Eliana Souza, uma das fundadoras da ONG Redes da Maré. “A sociedade civil faz sua parte, mas o governo precisa entrar”, diz ela.

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