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Por Redação O Sul | 27 de abril de 2020
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta segunda-feira (27) esperar que o STF (Supremo Tribunal Federal) possa analisar rapidamente as denúncias feitas contra ele pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Bolsonaro afirmou que Moro deve provar o que disse.
O ministro Celso de Mello, do STF, deve autorizar a abertura de um inquérito para apurar as acusações feitas por Moro, a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras.
“O ministro que saiu fez acusações e é bom que ele comprove, até para minha biografia, tá OK? Agora, o processo no Supremo é o contrário, é ele que tem que comprovar aquilo que ele falou ao meu respeito”, disse Bolsonaro na porta do Palácio da Alvorada, em Brasília.
“Eu espero que o Supremo Tribunal Federal analise para tirar dúvida. Uma acusação grave foi feita a meu respeito, seria bom que o Supremo decida isso o mais rapidamente possível. E [o ex-] ministro pode apresentar as provas, se ele tiver, obviamente.”
Ao anunciar sua demissão na última sexta-feira (24), Moro apontou fraude no Diário Oficial da União no ato de exoneração de Maurício Valeixo do comando da PF (Polícia Federal) e afirmou que Bolsonaro queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da PF.
Em resposta, ainda no dia 24, Bolsonaro admitiu ter cobrado Moro pela investigação sobre a facada que ele, então candidato à Presidência, sofreu em setembro de 2018, durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Ao lembrar do atentado, o presidente disse que o ex-juiz da Operação Lava-Jato não esteve com ele na campanha eleitoral e que não sabe em quem Moro votou no primeiro turno.
Nesta segunda (27), Bolsonaro voltou a negar qualquer interferência política na Polícia Federal.
“Eu nunca pedi isso ai, zero, nenhum parente meu está sendo investigado pelo Supremo. O que tá de fake news é segredo de Justiça, ninguém sabe”, disse. “Ele [Moro] teve carta branca na Justiça, eu não troquei nenhum superintendente, sugeri Rio e Pernambuco.”
Para o lugar de Valeixo, Bolsonaro deve indicar Alexandre Ramagem, amigo de seu filho e vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). No fim de semana, a Folha de S.Paulo revelou que a PF identificou Carlos como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.
À tarde, o procurador-Geral da República, Augusto Aras, esteve no Palácio do Planalto. Ele conversou com o ministro da Casa Civil, Braga Netto, e Bolsonaro também participou do encontro.
O presidente chegou no Alvorada, residência oficial, mais cedo do que é comum, antes das 18h, e disse estar cansado. “Eu gostaria de estar assumindo a Presidência hoje, infelizmente eu não estou”, disse, entre risadas.
Bolsonaro afirmou que Valeixo já havia informado seu interesse em deixar o cargo. “Estava tudo certo para ele sair, estava discutindo um novo nome, ele [Moro] tinha os nomes dele, eu tinha os meus, até que ele [Moro] fechou questão”, disse.
No domingo (26), a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal divulgou carta aberta com fortes críticas à interferência de Bolsonaro no comando da PF e afirmou que há uma “crise de confiança” na indicação do novo diretor-geral.
Questionado, Bolsonaro defendeu Ramagem. O presidente disse que o conheceu na campanha eleitoral de 2018 porque ele fazia parte da equipe de sua segurança como candidato.
“Ele ficou novembro e dezembro na minha casa, dormiu na casa vizinha, tomava cafe comigo. Aí tirou fotografia com todo mundo, foi num casamento de um filho meu. Não tem nada a ver a amizade dele com meu filho, meu filho conheceu ele depois”, disse.
“E eu passei a acreditar no Ramagem, conversava muito com ele, trocava informações, uma pessoa inteligente, bem informada, e demonstrou ser uma pessoa da minha confiança. A partir do momento que tenho chance de indicar alguém da PF, porque não [o] indicaria?”.
O presidente afirmou que o novo ministro da Justiça e Segurança Pública deve ser nomeado nesta terça-feira (28). Segundo ele, o novo titular do cargo deve ter um perfil de diálogo com outros Poderes.
“[Será alguém com] capacidade de dialogar com outros poderes, que tenha boa entrada no Supremo, no TCU [Tribunal de Contas da União], no Congresso.”
Bolsonaro manteve suspense sobre a escolha, mas disse que o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, continua cotado. Ele também admitiu que considera o advogado-geral da União, André Mendonça, “um bom nome”.
“Vocês vão ter uma surpresa positiva, tem dois nomes postos à mesa, o Jorge e outro. Eu não vou falar porque, se muda, vão falar que eu recuei.”
Pressionado por pedidos de impeachment protocolados na Câmara, o presidente articula abrir espaço no governo para políticos de partidos do chamado centrão.