Depois de tomar o depoimento do ex-presidente Lula, no dia 10 de maio de 2017, o então juiz Sérgio Moro mandou uma mensagem no Telegram para o então procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Moro queria que a força-tarefa da “Lava-Jato” emitisse uma nota pública apontando contradições na fala da Lula, “porque a defesa já fez o showzinho dela”, disse a Carlos Fernando.
É o que mostram mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil na noite de sexta-feira (14). Minutos depois, o procurador Deltan Dallagnol entrou em contato com Moro. Elogiou a postura do juiz durante o depoimento de Lula e contou que discutia com a assessoria de imprensa do MPF (Ministério Público Federal) a conveniência de uma nota, nos termos da que ele pedira a Carlos Fernando. Moro agradeceu o elogio e reforçou o pedido.
Em um grupo de Telegram com os procuradores e assessores de imprensa do MPF, foi intenso o debate sobre a pertinência da nota pedida por Moro. Os assessores aconselhavam a não fazê-lo, pois poderia levantar suspeitas, sendo que os procuradores nunca falavam sobre audiências específicas. Porém, o pedido de Moro acabou prevalecendo. No dia 11 de maio a nota foi divulgada.
Na manhã de sexta-feira, Moro disse a jornalistas que as mensagens em que ele aparece orientando a atuação dos procuradores da Lava-Jato foram “mero descuido” da parte dele, mas “nada de mais”. Sobre o novo pacote de mensagens, Moro não se pronunciou.
Confiança
Um dia após a divulgação de novos trechos de conversas privadas nas quais o então juiz Sérgio Moro passa orientações a procuradores da Lava-Jato, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendeu o legado de seu ministro da Justiça, mas disse que não existe confiança 100%.
“Eu não sei das particularidades da vida do Moro. Eu não frequento a casa dele. Ele não frequenta a minha casa por questão até de local onde moram nossas famílias. Mas, mesmo assim, meu pai dizia para mim: Confie 100% só em mim e minha mãe”, disse Bolsonaro.
Questionado se os diálogos entre o então juiz e o procurador chefe da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, não representariam irregularidades, o presidente ressaltou os resultados da atuação de Moro no combate à corrupção. “Tem um crime de invadir o celular do caboclo lá [Deltan]. E outra, tem programa que eu tive acesso de você forjar conversa e ponto final. O que interessa? O Moro foi responsável, não por botar um ponto final, mas por buscar uma inflexão na questão da corrupção”, disse o presidente. “E mais importante: [Moro] livrou o Brasil de mergulhar em uma situação semelhante a da Venezuela. Onde estaria em jogo não o nosso patrimônio, mas a nossa liberdade”, completou.