Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de janeiro de 2022
Moro rompeu o contrato faltando um ano para o término, sem o pagamento de multa.
Foto: ReproduçãoO ex-ministro e ex-juiz federal Sergio Moro revelou, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, nesta sexta-feira (28), que recebeu US$ 45 mil por mês – o equivalente a R$ 242,5 mil, na cotação atual – pelo trabalho prestado para a consultoria internacional Alvarez & Marsal, onde trabalhou durante cerca de um ano, entre novembro de 2020 e outubro de 2021, nos Estados Unidos. No total, ele recebeu cerca de R$ 3,5 milhões.
Na live, Moro contou que ganhou, além dos US$ 45 mil mensais, um bônus de US$ 150 mil, o que equivale a cerca de R$ 800 mil. Dessa quantia, ele disse que devolveu R$ 67 mil em outubro do ano passado por ter encerrado o trabalho antes do tempo previsto por sua pré-candidatura à presidência no Brasil.
Ele expôs recibos com os valores que recebeu e disse que todas as quantias foram declaradas. Os valores foram pagos ao ex-ministro através de uma empresa em seu nome, a Moro Consultoria. “Não tem nada de errado no que eu fiz, mas vamos aqui ser transparentes para iniciar uma nova era em que todos revelem os fatos. Esse processo do TCU [Tribunal de Contas da União] é um abuso, o TCU serve para investigar a administração pública, e não um contrato da iniciativa privada. Mas, tudo bem, eu vou revelar, espero que todos façam o mesmo”, afirmou Moro, antes de revelar as quantias.
Ele fez menção ao processo no TCU que apura se houve conflito de interesse na sua contratação pela empresa, que também atuou na recuperação judicial do grupo Odebrecht e da OAS, alvos da Operação Lava-Jato. Em outros momentos da live, Moro provocou adversários políticos. Ele disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria expor os valores recebidos por palestras feitas pelo petista no passado. Também afirmou que o presidente Jair Bolsonaro deve abrir as “contas da rachadinha” do período em que atuou como deputado federal e também de seus filhos.
“Se exigiram de mim ser transparente, que o Lula e o Bolsonaro sejam transparentes também, em rachadinha, em gabinete, em conta do sítio de Atibaia e as contas das palestras recebidas pelo Lula. Vamos abrir a campanha ‘abre as contas Bolso-Lula”, declarou.
Moro disse que os cheques depositados pelo ex-assessor Fabrício Queiroz para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, eram destinados ao presidente Jair Bolsonaro. Na época em que o depósitos foram revelados, Moro era ministro da Justiça de Bolsonaro. “Vamos ouvir esclarecimentos sobre aqueles cheques, que não são da primeira-dama, são dele [Bolsonaro] mesmo. A questão da esposa é coisa dele. Vamos abrir essas contas e revelar quem rachou dinheiro dentro das contas da família Bolsonaro”, afirmou.
O ex-juiz, que alega não ter enriquecido na vida pública ou privada, reconhece que recebeu um “salário bom” para os padrões dos Estados Unidos e para função que ocupava, mas disse que está “longe de ter enriquecido” com o trabalho. “Para evitar qualquer confusão eu pedi para colocar uma cláusula dizendo especificamente que eu não prestaria nenhum serviço para empresa envolvida na Lava-Jato. Está no contrato, dito expressamente”, acrescentou Moro.
O trecho mencionado por ele e lido em voz alta pelo deputado Kim Kataguiri, que acompanhou Moro durante toda a transmissão, cita nominalmente a Odebrecht como uma das empresas vetadas para sua atuação. Os documentos apresentados por Moro foram disponibilizados por ele nas redes sociais.
De acordo com pessoas próximas, o ex-ministro estava inseguro em fazer uma live e preferia divulgar apenas uma gravação. Foi Kim um dos responsáveis por convencê-lo a fazer a revelação ao vivo com o intuito de garantir mais credibilidade. Em diversos momentos, Kim tentou equiparar os valores recebidos por Moro a outros salários. Ele mencionou como exemplo o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, indicado por Bolsonaro para vaga no Banco Mundial, cujo salário é de cerca de R$ 115 mil mensais.