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Ali Klemt Sexta-feira do horror

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(Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Era para ser uma sexta-feira santa. Tornou-se uma sexta-feira do horror.

Seis mulheres assassinadas no Rio Grande do Sul. SEIS. Todas vítimas do “amor”. Do amor que alguém um dia lhes jurou, mas que, na verdade, nada mais era que um egoísta sentimento de posse potencializado por um ambiente absurdamente machista. Seis mulheres que tiveram a vida ceifada por não aceitarem se submeter a quem se julgava seus donos.

Tragédia é o nome disso, Tragédia porque não tem apenas um culpado, tampouco seis. Tragédia porque todos carregamos essa culpa. Somos culpados ao aceitar piadas machistas que exaltam uma suposta inferioridade feminina. Somos culpados ao fechar os olhos às pequenas atitudes que já apontam para uma potencial agressão. Somos culpados ao aceitar que ainda se exponham áudios e vídeos e fotos de mulheres tratadas como objeto. Somos culpados, enfim, como sociedade por não estar no mesmo ritmo da polícia, da Secretaria de segurança, da Brigada Militar que tanto vêm se esforçando para reduzir a ocorrência deste crime no RS: feminicídio, o crime com a maior pena prevista na nossa legislação. Matar a mulher por questão de gênero – e que, tristemente, é cometido não por pessoas aleatórias, mas por aqueles a quem se deu confiança. Confiança demais, aliás.

Em Viamão, uma mulher de 50 anos foi morta a tiros em sua residência. O suspeito? O ex-companheiro. Em Santa Cruz do Sul, outra mulher morta, supostamente, pelo ex-companheiro. Dessa vez, com golpes de facão. Em Bento Gonçalves, outra vítima do facão, uma mulher de 54 anos. O suspeito detido tem 64 anos. Em São Gabriel, outra mulher assassinada a faca, em mais um caso cujo suspeito, também, é o ex-companheiro.

Mas, calma. Fica pior.

Em Feliz (que ironia), houve um duplo homicídio. Um homem de 27 anos não aceitava o final do seu relacionamento e matou não só a ex, mas, também, o atual namorado. Dois jovens de 21 e 24 anos, respectivamente. E eu só consigo pensar nos pais dessas vítimas. E até nos pais do assassino. Meu Deus, quanta dor!…

A insanidade chega a extremos, contudo, ainda mais inimagináveis. Em Parobé, uma mulher grávida – GRÁVIDA – foi morta pelo ex-companheiro. Gente, eu desconheço algo mais sagrado que uma gestante, um ser que carrega a vida dentro de si. Mas isso não importa para um ser que só pode ter o umbigo como centro do universo e julgar que não pode ser abandonado, trocado, desconsiderado.

A violência contra a mulher é um crime com raízes culturais profundas. Não se resolverá de um dia para o outro, apesar de todos os esforços envidados. Em 2024, o estado do Rio Grande do Sul conseguiu uma redução histórica nos índices de tal crime, mas sabe-se que é preciso vigilância constante. Porque não se trata de coibir, de punir, de tentar evitar: é preciso educar. É preciso mudar a atitude dos nossos homens em relação às mulheres. E isso não leva anos. Leva décadas.

Estamos no meio do processo, tenho certeza. Ainda falta muito, contudo, e reputo a dificuldade a dois pontos bastante específicos: a sensação de impunidade que ainda permeia esse país (nem preciso falar muito sobre o porquê, considerando que temos um presidente “descondenado”), mas, mais importante, a falta de educação básica de qualidade com acesso a realidades nas quais esse tipo de crime é raro. Raríssimo. E não essa banalidade de ocorrerem seis – repito, SEIS – em uma madrugada de feriado, certamente regada a álcool e, talvez, outras substâncias que deram aos assassinos a coragem de cometer o mais terrível crime: o de finalizar com a vida de alguém. Isso não é amor: isso é raiva pura e incontrolável por quem, no fundo, eles julgam superior e sabem que jamais terão.

Meu coração chora por essas mulheres e suas expectativas de amor frustradas. E pelas vidas ceifadas em razão, exatamente, desse falso amor.

Ali Klemt

@ali.klemt

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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