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“Shakiramania”: da Maré a Copa, colombiana coloca o mundo para dançar há duas décadas

Os veículos estão estacionados na mansão em Barcelona na qual a cantora vivia com Gerard Piqué. (Foto: Reprodução)

Há mais de duas décadas, a colombiana Shakira bota o mundo para dançar. Há duas semanas, no entanto, foi uma pequena parte do planeta que chamou a atenção da cantora de 45 anos: o Complexo da Maré, no Rio. Foi lá que o influenciador digital carioca Raphael Vicente filmou e postou uma versão coreográfica de “Waka waka”, canção gravada pela popstar para a Copa do Mundo de 2010. Horas após a postagem, Raphael quase caiu da cadeira. Shakira havia compartilhado seu vídeo. O jovem carioca publicou uma reação emocionada — e divertida — em agradecimento, e recebeu da diva o convite para dançar com ela o hit no palco do próximo show que Shakira fizer no Brasil.

Uma nova Copa do Mundo já seria suficiente para fazer o país voltar a requebrar no ritmo de Shakira. Mas somem-se a isso todos os desdobramentos sobre sua ruidosa separação do jogador de futebol espanhol Gerard Piqué e a expectativa sobre o lançamento de um novo álbum e, pronto!, lá vem a nossa shakiramania com força total.

Para se ter uma ideia, o vídeo de Raphael já contabiliza quase 300 mil visualizações somente no Instagram. O vídeo oficial de “Waka waka”, um dos hinos de Copa do Mundo mais bem-sucedidos de todos os tempos, já ultrapassou três milhões de visualizações no YouTube. Um vídeo da canção com imagens dos bastidores das filmagens do clipe ostenta o impressionante número de 121 milhões de cliques. “A Maré te ama”, disse Raphael à cantora no Twitter.

Batida brasileira

Não é de hoje que a colombiana está de olho no mercado do Brasil. Nos anos 1990, quando a carreira de Shakira dava os primeiros passos para fora do território colombiano, nosso país foi uma das suas primeiras paradas para divulgação de seu trabalho. Muito por conta do bem-sucedido hit “Estoy aquí”, do seu terceiro e mais famoso álbum, “Pies descalzos”. A versão original, lançada em 1995, fez até algum sucesso, mas foi o remix de um DJ brasileiro que ajudou a preparar o terreno para o fenômeno mundial que a loura se tornaria, anos depois.

“Em 1996, a gravadora Sony Music me pediu um remix dessa música para uma tal de Shakira. Havia um interesse no mercado internacional, então me senti à vontade para construir uma faixa sintonizada com o que rolava na house music mundial na época”, conta o DJ Memê.

Meses depois, o brasileiro também assinaria boa parte dos remixes do álbum “The remixes”, só com releituras eletrônicas de canções de Shakira, apontado até hoje pela Recording Industry Association of America (RIAA) como um dos discos latinos mais bem-sucedidos de todos os tempos. Segundo a organização, a marca foi de cerca de um milhão de cópias vendidas em todo o mundo.

O primeiro álbum de Shakira, “Magia”, foi lançado em 1991, quando a cantora tinha 14 anos. Não impressionou muito. Vendeu cerca de mil cópias, entre vinis e cassetes. Dois anos depois, ainda na Sony Music Colômbia, a morena – sim, ela era morena – lançaria “Peligro”, também sem muito impacto internacional. Foi com “Pies…”, lançado em 1996, que o mundo começou a se render.

“Estoy aquí” adentrou o disputadíssimo ranking da revista americana “Billboard”, um dos índices de popularidade mais respeitados até hoje. E sacramentou a primeira pegada da artista no território competitivo da dance music global. Diferentemente de muitas promessas daquele tempo, Shakira se mantém no primeiro time das divas pop de alcance global. O que pouca gente sabe é que a exímia bailarina da “dança do ventre” gostava de ouvir AC/DC e Led Zeppelin na adolescência.

“Shakira era rock and roll”, conta Memê. “Quando a conheci para fazer o remix, ela não me pareceu muito interessada em música eletrônica. Quando veio para o programa do Faustão, levou um susto quando a produção pediu para que ela apresentasse a versão do remix e não a original. Mas entrou no palco dançando loucamente e arrasou.”

Hoje, Shakira contabiliza 11 álbuns de estúdio. “El Dorado” é o mais “recente”, lançado em 2017. Mais um sucesso comercial, devidamente celebrado no maior palco do mundo, o show que acontece entre o primeiro e o segundo tempo do Superbowl, a final do campeonato de futebol americano dos EUA. Em 2020, ao lado de Jennifer Lopez, Shakira foi responsável pela audiência estimada de 103 milhões de espectadores em todo o planeta.

Ainda que J.Lo seja de família porto-riquenha, a parceira de Shakira no Super Bowl nasceu nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York. Não foi o caso da latino-americana, que brotou para o mundo em Barranquilha, a 700 quilômetros de Bogotá. E a “latinidade” é um ingrediente fundamental na trajetória de ascensão da estrela. Se nos dias de hoje o reconhecimento internacional de popstars latinos ainda é um desafio, naquela época a coisa parecia bem pior.

“Não foram poucas as vezes em que ouvi a frase “esse artista é muito bom, pena que canta em espanhol, ninguém vai ouvi-lo”, conta Memê. “Hoje, ainda acho que existe um sentimento de que é preciso ter uma “cota” de artistas latinos. Shakira pegou o começo dessa onda e soube aproveitar muito bem o momento.”

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