Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2022
Os primeiros shampoos surgiram na Índia, quase simultaneamente à chegada dos portugueses ao Brasil, no século XVI. Desde que o ser humano acostumou a lavar os próprios fios, ele usa o produto líquido – cerca de 80% da composição é água. Por que, então, a versão em barra passou a ser cada vez mais encontrada nos estandes?
Existem vantagens ligadas à sustentabilidade dos shampoos e condicionadores sólidos, criados para serem menos prejudiciais ao meio ambiente. A maioria deles tem embalagens com zero plástico, transporte que gera menos emissões de gases de efeito estufa, maior durabilidade e, em alguns casos, os próprios componentes são de origem orgânica, são biodegradáveis.
A coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Fabiane Brenner, lista que o produto tem peculiaridades que devem ser consideradas pelos consumidores interessados: ele exige uma mudança na forma de aplicação, nem todos os ingredientes dos produtos líquidos estão presentes na versão em barra e, por isso, nem todos os perfis de cabelos são plenamente atendidos pelo produto.
Aplicação
Como a maioria das pessoas está acostumada com a versão líquida, é consenso no mercado que um dos desafios é a mudança gestual da aplicação. Diariamente, o consumidor é acostumado a apertar uma embalagem, soltar um líquido na mão e, depois, esfregar no cabelo. No caso da barra, ainda fica no imaginário a sensação de “passar o sabonete na cabeça”.
“Tem uma mudança no modo de aplicar. Uma preocupação quando a gente passa para o shampoo em barra é a distribuição. Quando você já tem o produto diluído é muito mais fácil aplicar um condicionador, por exemplo, que vai se diluir facilmente no cabelo”, explica Fabiane Brenner. As empresas estudam o design mais confortável para o uso.
Brenner explica que boa parte dos aditivos do shampoo líquido podem ser incluídos na versão sólida. No entanto, existe uma lista de ativos que têm mais dificuldade de serem estabilizados em ambiente seco. Por isso, para usar, a pessoa terá que ir atrás de produtos novos — é difícil fazer uma versão do produto que já temos em casa na forma líquida, mas agora em barra.
“Eu consigo fazer o mesmo produto líquido e em barra? Eu consigo fazer produtos com a mesma finalidade, mas não exatamente com os mesmos ativos. Não consigo transformar o shampoo que eu estou comprando ali, ou que eu estou produzindo hoje como líquido, com os mesmos ativos, num shampoo em barra”, explica a dermatologista.
Limitações
Benner explica que para um “fio normal, que não está danificado” não tem muita diferença — o resultado será similar em um shampoo em barra e um líquido. Ela alerta para a necessidade de aplicar o produto corretamente, prestando a atenção para dissolver igualmente no corpo cabeludo.
“Acho que a gente precisa modificar a cultura mesmo, a maioria das pessoas tem uma cultura de aplicar o condicionador muito fácil. Eu coloco uma gotinha na minha mão e ele se distribui rapidamente”, avalia.
No entanto, quem tem o couro cabeludo mais sensível, ou tem dermatite seborreica (doença que causa vermelhidão e escamação), pode ter algumas limitações relacionadas às versões sólidas.
“Cada vez mais os pacientes têm questionado sobre isso no dia a dia e acho que isso é um ponto positivo para a comunidade, que a gente tenha esse esclarecimento de que na verdade você pode usar, e que não há tantos problemas relacionados a isso”, comenta a especialista.
“Sempre lembrando que esses pacientes com alguma doença de couro cabeludo, ou que tenha um cabelo muito ressecado, talvez eles tenham um pouquinho mais dificuldade de condicionar. Mas isso é fora da média, o cabelo normal não vai ter problema”.
Dura mais?
Representante de uma das marcas que produzem o item em barra, a líder global de Pesquisa e Desenvolvimento da Natura, Roseli Mello, diz que o produto atende pessoas que buscam um consumo mais sustentável, tanto na durabilidade quanto na produção.
Sobre a durabilidade, Mello diz que vários testes foram feitos, inclusive estudos científicos controlados. Ela aponta que o formato em barra dura mais. “No caso do shampoo, a barra de 90 gramas dura o dobro de um shampoo líquido de 200 ml. Ela equivale em média a 48 lavagens, enquanto o líquido renderia umas 27 lavagens. Já o condicionador dura até 8 vezes mais”, afirma.