Em carta ao chefe do USTR (escritório de representação comercial da Casa Branca), Jamieson Greer, a principal entidade representativa do aço nos Estados Unidos definiu o Brasil como a “China da América Latina” e acusou o governo brasileiro de “subsidiar pesadamente” a indústria siderúrgica local.
O ofício foi encaminhado pelo presidente da Steel Manufacturers Association (SMA), Philip Bell, no âmbito da consulta pública do USTR para “avaliar e identificar qualquer prática comercial injusta ou sem reciprocidade” por parte de outros países.
O presidente Donald Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio de todos os fornecedores para o mercado americano, incluindo o Brasil, que abriu negociações com a Casa Branca.
Bell começa sua carta dizendo que os Estados Unidos tiveram um déficit de 18 milhões de toneladas de aço em 2024. Nos últimos dez anos, segundo, as importações no setor superaram as exportações em 200 milhões de toneladas.
O executivo afirma, citando números da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que o mundo tem um excesso de capacidade de 644 milhões de toneladas em 2025.
De acordo com ele, essa “sobra” está gerando uma oferta de produtos siderúrgicos que caracteriza um surto de importações pelos Estados Unidos, não apenas da China, mas de uma série de outros parceiros comerciais.
Um longo trecho no ofício de 40 páginas, então, é dedicado especificamente ao Brasil.
O país, segundo Bell, tem uma capacidade de produção de 50,9 milhões de toneladas, mas produziu apenas 31,8 milhões de toneladas em 2023.
Apesar da capacidade ociosa, a associação afirma que as siderúrgicas brasileiras anunciaram recentemente um plano de R$ 100 bilhões para expandir sua produção.
As exportações americanas de aço para o Brasil, diz a carta, são dificultadas por uma tarifa média de 12,6% – mas que pode ir para 20% e até 35%, dependendo do produto.
Além disso, argumenta a SMA, o Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) – uma taxa sobre o valor do frete cobrado por companhias de navegação que usam os portos brasileiros – tira a competitividade do aço americano no Brasil.
“O Brasil também subsidia pesadamente sua indústria siderúrgica doméstica. Isso dá aos produtores brasileiros vantagens injustas no comércio global e torna mais difícil para os produtores americanos competir com o Brasil em terceiros mercados”, diz Bell na carta.
Em seguida, o executivo destaca o papel do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na concessão de linhas de crédito subvencionadas.
Ele cita o Finame – Baixo Carbono, uma linha de crédito oferecida pelo BNDES para a compra de sistemas de geração de energia fotovoltaica e eólica, aquecedores solares, ônibus e caminhões elétricos, equipamentos com maiores índices de eficiência energética.
Além do BNDES, o governo brasileiro tem “mais de 120 empresas estatais”, continua a carta, que menciona setores como óleo e gás, eletricidade, transportes e bancos. Ela se refere ao Brasil como “a China da América Latina”.
O aço exportado pelo Brasil aos Estados Unidos é principalmente de produtos semi-acabados, que depois são aproveitados pela própria indústria siderúrgica na confecção de bens finais — como chapas, tubos e fios – para a construção civil, fabricantes de automóveis, gasodutos, torres de transmissão de energia.
De acordo com a carta da SMA, dois dos terços do investimento e dos empregos no setor vêm da produção especificamente de semi-acabados.
Nesse caso, 70% das importações americanas de placas de aço vieram do Brasil. O presidente da associação chama isso de “suprimento desnecessário” no ofício ao USTR.