Segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de fevereiro de 2024
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu uma nota repudiando o desfile da Escola de Samba Vai-Vai durante a segunda noite do carnaval paulistano. A categoria afirmou que a escola de samba demonizou a polícia ao representar agentes com chifres e outros elementos no Anhembi, Zona Norte da capital paulista.
O enredo da Vai-Vai trouxe como tema o hip hop de São Paulo. Durante o desfile, a escola contou com a presença de Mano Brown e KL Jay, dos Racionais MC’s. A crítica do Sindpesp foi em relação à ala “Sobrevivendo no Inferno”, na qual agentes com escudo escrito “Choque” foram representados com chifres e asas vermelhas.
“Ao adotar tal enredo, a escola de samba, em nome do que chama de ‘arte’ e de liberdade de expressão, afronta as forças de segurança pública”, diz a nota.
“É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei.” O Sindpesp também pediu que a escola de samba reconheça que houve um exagero e faça uma retratação pública.
Por outro lado, a Vai-Vai afirmou que não teve a intenção de promover qualquer ataque ou provocação. Além disso, a escola disse que fez um desfile com recortes históricos e que a ala em questão faz uma homenagem ao álbum “Sobrevivendo no Inferno”, lançado na década de 1990 pelos Racionais MC’s.
“Neste recorte histórico da década de 90, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica”, justificou.
“Os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado para época.”
Borba Gato
A Vai-Vai também levou uma réplica pichada da estátua do bandeirante Borba Gato, que já foi alvo de manifestações.
Durante a semana, nas redes sociais, um texto da escola deixou a dúvida se a réplica da estátua de Borba Gato seria queimada durante o desfile, assim como ocorreu em 2021 com a estátua original.
“Foi um colono brasileiro, bandeirante paulista, sertanista, proprietário de escravizados e descobridor de metais preciosos. Nas viagens que realizava, para explorar novas terras, os grupos indígenas encontrados pelo caminho eram assassinados, as mulheres estupradas e os sobreviventes aprisionados e vendidos como escravizados. E aí? Fogo na estrutura?”, diz o texto da escola.
Ao final, a Vai-Vai optou só por simular fogo e fumaça nos pés e pernas do bandeirante. No mesmo carro, havia placa com frases como “fogo nos racistas”.
Em 2021, a estátua, em Santo Amaro, Zona Sul da cidade, foi alvo de um incêndio. A estrutura da estátua de Borba Gato foi atingida pelas chamas, mas não ficou comprometida.
O motoboy Paulo Galo, um dos acusados, que foi destaque do carro alegórico, confessou à Polícia Civil ser ativista social e ter organizado o ataque à estátua de cerca de 13 metros de altura porque queria abrir debate público a respeito da existência dela. Historiadores afirmam que Borba Gato escravizou negros e indígenas.
Em 2020, crânios foram colocados ao lado de monumentos de bandeirantes, inclusive Borba Gato, para ressignificar a história de São Paulo.
Projetos de lei pedem a proibição ou a retirada de monumentos que homenageiam figuras como a de Borba Gato.