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Saúde Sintomas da varíola dos macacos mudam e intrigam médicos

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Fiocruz dará prioridade de registro a estudos sobre monkeypox. (Foto: Reprodução)

Os sintomas mais comuns do monkeypox, doença conhecida popularmente como varíola dos macacos, estão diferentes do que foi descrito em surtos anteriores, que são registrados em países da África pelo menos desde os anos 1970.

Antes de esse vírus se espalhar para outras partes do mundo, as manifestações mais comuns da infecção eram febre, mal-estar, inchaço dos gânglios, dor de cabeça, suadouro e o surgimento de várias lesões na pele, principalmente no rosto, na palma das mãos e na sola dos pés.

Agora, os médicos percebem outro padrão: os pacientes ainda têm febre e mal-estar, mas a maioria deles apresenta poucas feridas, que se localizam principalmente nos genitais e no ânus. Elas também aparecem com características diferentes, e muitas vezes se assemelham a espinhas ou a uma crise de herpes simples.

Uma parcela significativa de acometidos, relatam os especialistas, apresenta sintomas muito leves, o que dificulta ainda mais a suspeita e o diagnóstico do monkeypox. Ainda não se sabe com certeza o que pode estar por trás dessas mudanças.

“O que temos visto no surto atual são quadros atípicos, muito distintos daquele padrão clássico que conhecíamos”, observa a virologista Clarissa Damaso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Entenda em detalhes quais são os sintomas mais comuns do monkeypox e por que eles estão diferentes do que foi descrito anteriormente.

Expectativa e realidade

Essa mudança no padrão da doença já virou assunto de uma série de artigos científicos. Um dos mais recentes, publicado no periódico British Medical Journal, acompanhou 197 pacientes que testaram positivo para o vírus na cidade de Londres, no Reino Unido.

O levantamento descobriu que:

— Todos os participantes tinham lesões na pele ou na mucosa (na parede interna da boca ou do ânus, por exemplo);
— Em 56%, essas feridas apareceram nos genitais;
— Em 41%, elas foram observadas no ânus;
— 61% tiveram febre;
— 57% apresentaram inchaço dos gânglios linfáticos;
— 31% se queixaram de dor muscular;
— 13% tiveram apenas as lesões, sem febre ou outros sintomas;
— Outros sintomas comuns foram dor no reto (acometeu 36% dos participantes), dor de garganta (16%) e inchaço ou vermelhidão no pênis (15%).

O artigo vai ao encontro do que médicos brasileiros têm observado na prática. Eles chamam a atenção para o número de pacientes com monkeypox com sintomas muito leves, quase imperceptíveis.

“Temos visto as mais variadas manifestações da doença. Alguns chegam com uma única lesão, enquanto outros estão com muitas feridas”, descreve a infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
“Também há casos em que o único sintoma é uma proctite, um tipo de inflamação no reto”, complementa.

“Ou seja: são quadros clínicos muito diferentes daqueles descritos na literatura que tínhamos até então.”

Classicamente, a infecção por esse vírus e o aparecimento dos sintomas eram descritos em duas fases.

A primeira, que durava até cinco dias, era caracterizada por febre, dor de cabeça, inchaço dos gânglios, dor nos músculos e falta de energia. “São sinais comuns a qualquer virose”, observa Damaso.

A segunda, que se inicia em um a três dias depois do aparecimento da febre, tinha a erupção das feridas como a principal manifestação. “Como padrão, as lesões apareciam nas extremidades do corpo, como as mãos, os pés e o rosto”, detalha a virologista.

Essas fases também estão mais confusas e misturadas agora: no estudo publicado no British Medical Journal, 38% dos participantes só desenvolveram sintomas sistêmicos, como febre e dor no corpo, depois que as feridas já tinham brotado.

Damaso explica que o subtipo do monkeypox presente em vários países tem uma menor letalidade e, apesar de não ter sofrido grandes mutações no código genético, pode ter adquirido uma espécie de “padrão de passagem”.

“Até o momento, a maioria dos casos está acontecendo em homens que fazem sexo com outros homens, e eles comumente apresentam lesões na região genital”, descreve.

“O contato com essas feridas costuma ser mais intenso durante a relação sexual. A partir daí, o vírus é transmitido para um outro indivíduo, que também tende a manifestar os sintomas na região genital”, complementa.

Ou seja: o padrão de passagem acontece por conta do contato próximo com as lesões, que no surto atual surgem com mais frequência na região genital. Assim, a pessoa infectada também desenvolve lesões nessa parte do corpo – e pode perpetuar o ciclo ao ter um contato mais íntimo com outros indivíduos.

Mas isso, claro, não descarta a relevância das outras formas de transmissão desse agente infeccioso que vão além da relação sexual, como o compartilhamento de objetos e as gotículas de saliva.

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