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Sob a presidência de Lula, generais do Alto Comando perdem espaço no governo

Lula fez apenas uma nomeação de general de quatro estrelas em cargos ligados à máquina federal. (Foto: Ricardo Stuckert/PR/03-05-2023)

Após quatro anos em que ampliaram vertiginosamente a presença no governo federal sob a administração de Jair Bolsonaro, generais que compuseram o Alto Comando do Exército, o mais alto degrau da hierarquia militar, perderam espaço sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Levantamento aponta que, entre os generais promovidos à quarta estrela desde 2011, após a primeira passagem de Lula pela Presidência, apenas um obteve um cargo de confiança na atual administração: o general Marcos Antonio Amaro dos Santos, atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Já o governo Bolsonaro fez 16 nomeações de generais de quatro estrelas em cargos ligados à máquina federal — a maioria (12) nos dois primeiros anos de governo, período equivalente ao atual mandato de Lula. A lista inclui militares nomeados mais de uma vez, caso do general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa na gestão Bolsonaro. Braga Netto foi preso pela Polícia Federal (PF) em dezembro no inquérito que apura uma tentativa de golpe para impedir a posse de Lula.

O Alto Comando é composto por 16 generais de Exército, nomenclatura dada aos militares da ativa que foram promovidos à quarta estrela. Desde o início da última década, 62 generais atingiram o topo da carreira militar, e 20 deles obtiveram posteriormente cargos de confiança no Executivo federal, a maioria depois de ter passado à reserva.

O cálculo desconsidera cargos em administrações estaduais, em outros Poderes e em estatais e autarquias que tenham finalidade militar. Sob a gestão de Bolsonaro, Braga Netto foi um raro caso de general de quatro estrelas nomeado quando ainda estava na ativa: ele assumiu a Casa Civil em fevereiro de 2020, e só passou à reserva no fim daquele mês.

Além de Braga Netto, outros dois militares indiciados pela PF no inquérito da trama golpista compuseram o Alto Comando na última década: os generais Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira — cujo irmão, o também general de quatro estrelas Guilherme Cals Theophilo, foi secretário nacional de Segurança Pública no governo Bolsonaro.

Outro general de quatro estrelas com cargo na gestão Bolsonaro foi Mauro Cesar Lourena Cid, ex-chefe do escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações) nos Estados Unidos. Ele é pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Barbosa Cid, que é tenente-coronel do Exército e foi apontado pelas investigações da PF como um dos operadores da tentativa de golpe.

“Houve uma aproximação excessiva desses generais de topo de carreira e o governo Bolsonaro através da ocupação de espaços. É claro que agora há uma diferença no governo Lula, o que também envolve um longo histórico de desconfianças entre os militares e o PT”, avalia o historiador Carlos Fico, professor da UFRJ e pesquisador da história militar no País.

A primeira passagem de Lula pela Presidência, entre 2003 e 2010, teve atritos entre governo e caserna, principalmente após o Exército divulgar comunicados exaltando a ditadura militar de 1964. A dificuldade na relação com as Forças Armadas levou o petista a buscar nomes de maior peso político para o posto de ministro da Defesa, como o então vice-presidente José de Alencar, que ocupou o cargo entre 2004 e 2006, e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, que ficou de 2007 a 2011, já na gestão de Dilma Rousseff (PT).

Uma solução semelhante pode ser adotada no atual governo, depois de o atual ministro José Múcio ter sinalizado que pretende deixar o cargo. Entre os nomes cotados a substituí-lo estão o atual ministro da Justiça e ex-ministro do STF, Ricardo Lewandowski, e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Após o impeachment de Dilma, em 2016, Temer nomeou seis generais de quatro estrelas em cargos de confiança, inclusive o de ministro da Defesa, posto assumido em 2018 pelo general Joaquim Silva e Luna — que depois se tornou diretor de Itaipu e presidente da Petrobras sob a gestão Bolsonaro. As informações são do portal de notícias O Globo.

 

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