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Por Redação O Sul | 13 de fevereiro de 2024
O Senado dos Estados Unidos aprovou o pacote de ajuda externa para a Ucrânia e para Israel que foi por meses objeto de negociações políticas e resistência por parte dos republicanos. Foram 70 votos a favor da medida e 29 contrários. Com US$ 60,1 bilhões extras para a Kiev, os EUA chegarão a um investimento de mais de R$ 170 bilhões na guerra na Ucrânia.
A votação dividiu os republicanos: 22 dos 49 senadores do partido do ex-presidente Donald Trump votaram com os democratas em apoio à assistência para a Ucrânia. A ajuda externa tem sido mal recebida pela base de eleitores republicanos e entrou na retórica de campanha eleitoral de Trump, favorito para disputar a presidência neste ano pelo partido republicano contra o presidente Joe Biden.
Em comício na semana passada, Trump disse que era preciso acabar com a guerra na Ucrânia e que ele faria isso. Também reiterou seu descontentamento com a ajuda externa à Kiev, ressuscitando um dos pilares da sua campanha bem sucedida de 2016, o “América primeiro”. Na Carolina do Sul, na semana passada, Trump afirmou que não defenderá aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) com atrasos de pagamento e foi além: disse que encorajaria a Rússia a “fazer o que quiser” com aqueles que não pagam as contas – uma aparente referência à meta de investimentos por parte dos países-membros.
Em janeiro, Trump chegou a dizer que ele acabaria com a guerra na Ucrânia em 24 horas, caso eleito presidente dos Estados Unidos. Na época, a fala foi criticada pelo presidente ucraniano Volodmir Zelenski, que classificou a promessa como “muito perigosa”.
Washington foi, até agora, o bastião do apoio à Ucrânia na guerra e a aprovação de mais um pacote de ajuda é o plano A da Casa Branca comandada por Joe Biden para seguir com o suporte a Zelenski na resistência à invasão russa. O pacote foi solicitado por Biden ao Congresso em outubro do ano passado, logo após o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel.
Também foi aprovado, no mesmo pacote aprovado pelo Senado, o valor de US$ 14 bilhões para Israel lutar contra o Hamas e quase US$ 10 bilhões para ajuda humanitária em locais de conflito, incluindo os palestinos na Faixa de Gaza.
A nova dotação de US$ 60 bilhões para a Ucrânia, o equivalente a quase R$ 300 bilhões, pode permitir a Kiev comprar mais tanques, mísseis, munições e defesas aéreas. O fim de uma ajuda financeira dos EUA representaria uma vitória para Vladimir Putin.
O desafio para o pacote será maior na Câmara dos EUA, onde parte dos republicanos já indicou que pode bloquear a votação do projeto. O presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, rejeitou preventivamente a legislação na noite de segunda-feira. “Na ausência de ter recebido qualquer mudança na política de fronteiras (dos EUA) do Senado, a Câmara terá de continuar a trabalhar a sua própria vontade nestas questões importantes”, disse, em um comunicado.
Os democratas pretendem encurtar o caminho do projeto na Câmara, para evitar que o pacote seja bloqueado e alterado por Johnson. Isso permitiria levar o texto votado pelo Senado direto a plenário. Para isso, no entanto, o partido de Biden precisará do de ao menos quatro deputados republicanos. No plenário, o caminho também será tortuoso. Isso porque há deputados democratas que se opõem à ajuda militar a Israel.
“Os EUA têm uma escolha clara: armar os ucranianos com os armamentos que eles precisam para se defender ou cortar a ajuda e abandonar a Ucrânia democrática em sua luta por sobrevivência nacional contra a agressão de Putin”, afirmou H.R. McMaster para reportagem do jornal americano The Washington Post. Ele foi um dos conselheiros de segurança nacional de Trump.
A possibilidade de Trump retornar à Casa Branca deixa em alerta os aliados dos EUA na Europa. O republicano já prometeu que retiraria os EUA da Otan e costuma criticar o fato de países não cumprirem suas metas de gastos com defesa.
Diante da ameaça russa, os países da Otan estabeleceram a meta de investir 2% do Produto Interno Bruto em defesa até 2024. O compromisso foi firmado há dez anos, quando Moscou anexou a Crimeia, e reforçado com a invasão em larga escala na Urânia. Até o ano passado, apenas 11 dos 31 integrantes haviam atingido esse compromisso. Outros chegaram perto, como é o caso da França que gastou 1,9% do seu PIB em defesa.
No Senado, os republicanos favoráveis à ajuda para a Ucrânia argumentaram que a aprovação era necessária para manter a posição dos Estados Unidos como guardiões da democracia de estilo ocidental contra as ameaças representadas por regimes autoritários, como o de Putin.