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Ali Klemt Sobre pontes e fé

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Foto: Divulgação

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Deveria ser matéria obrigatória conhecer as religiões. Todas elas. E entender as culturas. O máximo delas possível. E não estou falando de ler textos extenuantes e ter que decorar sobre os hindus, os maias e os vikings, apenas. Esse tipo de estudo não toca o coração – logo, não imprime a sua marca em nossa alma. É preciso mergulhar.

Minha primeira visita à Ásia foi através da Turquia. Fiquei absolutamente fascinada com a cidade que se descreve como “ponto de encontro” do mundo, por pertencer a dois continentes. Fui tomada pela magia incontornável de um milênio e meio de história, pelas cores e sabores e aromas das especiarias e tecidos e perfumes que desconhecia. Fui encantada pelas orações islâmicas e pelas melodias dos alaúdes e flautas da música turca.

Nada menos que 95% da população de Istambul é muçulmana. E a vida aqui é igual à nossa. Porque há respeito à liberdade individual de cada uma. O estado é laico, o que significa que cada um é livre para escolher a sua fé. E é essa miscelânea cultural que a faz tão rica.

A Aya Sophia é o seu símbolo. A visita à Aya Sophia foi como entrar em um liquidificador dos tempos. Construída pelos romanos em apenas 5 anos (sim, APENAS CINCO), entre 532 e 537 DC, o templo foi, durante séculos, a MAIOR igreja do mundo – só superada, bem mais recentemente, pelo Vaticano.

Uma obra da arquitetura, seu domo pende apenas sobre 4 arcos romanos, sem coluna alguma. Internamente, mantém seu piso de mármore original e boa parte de seus mosaicos das paredes, feitos de pequeníssimos pedaços de ouro e lápis-lazúli. Com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos, em 1453, transformou-se em uma mesquita. Por sorte, o então governante era um amante das artes e impediu a retirada dos mosaicos. Disse para pinta-los – o que nos possibilita, hoje, admirar essa obra prima.

O islamismo não permite a veneração de imagens, daí porque foram tapadas. Ainda assim, elas seguem lá, relembrando aos cristãos a sua história, enquanto muçulmanos oram da sua forma, pelas suas regras. E tá tudo bem!

Não há como resumir 1.492 anos de história em tão poucas linhas, mas o impacto é brutal: somos obrigados, como adultos que pretendem ser iluminados, a tentar conhecer as demais religiões dos povos que habitam essa nossa mesma terra. Porque, ao fim e ao cabo, são apenas variações sobre o mesmo tema: todas visam ao amor e à evolução pessoal – ao menos, na teoria.

O que nos diferencia, de fato? No fundo, nossas crenças não deveriam, de forma alguma, separar os homens. Somos todos iguais, buscando o melhor de nós mesmos e do nosso povo. E Deus, seja lá como você o chamar, deve ser apenas amor e bondade.

Mas isso seria o mundo ideal. De qualquer forma, carregamos dentro de nós a história do universo – daí a importância de mergulharmos nela e bebermos dela história para nos recarregarmos. Talvez seja coincidência, mas Santa Sophia se refere à “santa sabedoria de Deus”… tire suas próprias conclusões.

A empatia não requer conhecimento sobre o próximo – ela deve ser natural do ser humano diante de outro ser humano. O conhecimento, porém, constrói as pontes do respeito mútuo – e, sem dúvida alguma, de um mundo melhor.

@ali.klemt

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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