Trinta e seis sociedades médicas pediram à Anvisa que proíba a prescrição e a venda de implantes hormonais manipulados por farmácias. Em menos de dois meses, um sistema de notificação criado por entidades médicas registrou 257 casos de pacientes que tiveram problemas de saúde por causa de hormônios. Quase metade tinha implantes, que são inseridos debaixo da pele e vão liberando as substâncias.
E algumas pessoas com quadros graves, conta Clayton Macedo, presidente do Departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.
“Hipertensão, alteração de colesterol, de triglicerídeos, muita complicação cardiovascular prematura. Por exemplo, o indivíduo que infarta ou que tem uma embolia, numa faixa etária que normalmente não aconteceria, principalmente entre os 40 e 50 anos de idade. Alguns casos até de AVC”.
A Anvisa chegou a proibir o uso e a venda dos implantes hormonais, em outubro. Mas, no fim de novembro, liberou a produção nas farmácias de manipulação – mas só para terapia de reposição hormonal. O uso para fins estéticos, esportivos e de ganho de massa muscular continua proibido.
Só médicos podem prescrever os implantes e precisam informar o CID, o Código Internacional de Doenças, da condição a ser tratada. O médico também tem que entregar ao paciente um documento que alerta sobre os efeitos colaterais e que os implantes não têm eficácia e segurança avaliadas pela Anvisa.
A partir de agora, a prescrição dos implantes hormonais deverá ser feita com uma receita de controle especial. Além disso, a notificação de qualquer efeito colateral passa a ser obrigatória. Para as 36 sociedades médicas que pediram à Anvisa a proibição dos implantes, as novas medidas não são suficientes.
“A gente precisa ter um sistema de fiscalização muito bem montado, e a gente teme que a estrutura da Anvisa não dê conta dessa demanda. Enquanto isso, a população segue exposta a esses efeitos adversos. Nós encaramos isso hoje como um verdadeiro problema de saúde pública”, alerta Clayton.
Oral ou adesivos
Alexandra Mesquista, do Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia, diz que a reposição hormonal é indicada, por exemplo, para mulheres na menopausa, e que o tratamento deve ser feito via oral ou por adesivos.
“Não existem estudos com esses implantes, esses dispositivos implantáveis. Não somos contra a terapia de reposição hormonal. O que nós questionamos é o uso dos dispositivos implantáveis”, afirma.
A Anvisa declarou que as novas medidas vão permitir o controle da prescrição e manipulação dos implantes, que mantém um programa de fiscalização de farmácias de manipulação e que cabe aos conselhos de medicina e de farmácia fiscalizarem o trabalho dos profissionais. As informações são do Jornal Nacional.