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Solteiras ou envolvidas com a profissão, mulheres congelam óvulos deixando para depois o sonho da maternidade

Constanza Woltzenlogel congelou seus óvulos quando tinha 35 anos e era solteira. Quatro anos depois, nasceu Thomás, hoje com 2 anos. (Crédito: Reprodução)

Há sete anos, Constanza Woltzenlogel, com 35 anos e solteira, foi questionada pelo ginecologista sobre o futuro. “Ele me perguntou, sem rodeios, se eu queria ser mãe”, lembra Constanza, hoje com 42. “E me explicou que, se tivesse condições, deveria congelar os óvulos. Isso porque o tratamento é caro. Assim, eu poderia pensar em ser mãe aos 40 anos com material genético de 35”, completa a advogada, que seguiu o conselho do médico na época.

Quatro anos depois, com 39, descongelou parte do material. E hoje, sua vida é outra por causa de Thomás, 2 anos. Constanza teve sorte. Seu tratamento, atualmente uma tendência crescente entre “trintonas” solteiras ou afim de se postergar a gravidez para se dedicar à carreira profissional, deu certo desde o início. Ela reagiu bem à medicação que acelera a ovulação e congelou grande quantidade de óvulos. Teria condições de fazer novas fertilizações, mas engravidou de primeira. A advogada conta que a gravidez foi tranquila.

“Fui feliz na escolha do momento. Mas a natureza é sábia. E pode ocorrer dos pais não conseguirem acompanhar a energia dos filhos. Eu e meu marido sempre praticamos esportes e temos disposição”, pondera Constanza, faixa preta de caratê, casada com Klayton, 41 anos, faixa marrom de jiu-jítsu. “E, graças a Deus, nosso filho prefere gastar energia do que ficar vidrado na TV”, conta.

O tratamento se tornou ainda mais conhecido quando a atriz americana Jennifer Aniston, hoje com 46 anos, admitiu ter feito, quando tinha 39. O assunto foi amplamente comentado há cerca de dois anos. Por aqui, já conquistou, por exemplo, as atrizes Camila Morgado, Paula Burlamaqui e Karina Bacchi. As clínicas ouvidas pela reportagem confirmam que a procura vem aumentando.

O crescimento da prática, hoje disseminada nos EUA entre mulheres que querem adiar a gravidez, pode ser explicado em parte por um dado da pesquisa do Instituto Census Bureau, de abril, que revela que quase metade das mulheres americanas entre 15 e 44 anos não tem filhos. Segundo os dados, o índice subiu de 45%, em 2004, para 48%, em 2014.

Polêmica.

Em alguns casos, o adiamento da gravidez é até incentivado pelas empresas, o que gera polêmica. Ano passado, a Apple e o Facebook dividiram a opinião pública ao anunciar que bancariam o congelamento de óvulos de funcionárias nos EUA.

No Brasil, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 38% das mulheres de 15 a 49 anos não tinham filhos em 2013. Entre mulheres de 25 a 29 anos, esse índice foi de 40%, percentual que era de 33% em 2004.

O tratamento, no entanto, é caro. E, quanto mais tarde é iniciado, mais alto fica o valor. Isso porque a mulher tem de tomar mais remédios para estimular a ovulação e, assim, aumentar a possibilidade de material a ser coletado. Quem tem mais de 35 anos, precisa de mais doses porque, provavelmente, induzirá a ovulação em mais de um ciclo (a cada tentativa, paga-se tudo de novo, incluindo o congelamento). Só a aspiração dos óvulos e a vitrificação (congelamento) custam entre 8 mil reais a 17 mil reais. Fora a medicação e o processo depois (fertilização e inseminação). (AG)

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