Há cinco anos a jornalista australiana Sarah Wilson se descobriu viciada em açúcar. Não o refinado, ou o encontrado em doces e sorvetes, mas os saudáveis, como mel, chocolate amargo, frutas. Com alterações na tireoide, e transtornos de humor e de sono, ela decidiu tirar o açúcar da sua vida. E conseguiu.
Sarah descreve esta transformação no livro “Chega de Açúcar” (editora Sextante, 224 páginas, preço sugerido: 59,90 reais), recém-lançado no Brasil. Na entrevista a seguir, ela revisita o processo e, claro, faz muitas críticas à quantidade de açúcar presente no cotidiano das pessoas.
Você acha que seu livro será bem aceito no Brasil, onde 7,4% da população adulta tem diabetes?
Sarah Wilson – Acho que sim. Estou observando um maior interesse nesse importante tópico de saúde em países onde a dieta tradicional manteve a população saudável por muito tempo, mas, hoje, outras influências estão tendo um trágico impacto. O Brasil é um pouco como a Austrália, ao ar livre e energético. E os consumidores australianos estão particularmente engajados na discussão sobre o açúcar, porque nos importamos com essa parte da nossa cultura. Acho que no Brasil será um pouco parecido.
Qualquer um é capaz de abandonar o açúcar? O quão difícil essa mudança foi para você?
Sarah – A “alteração metabólica”, ou seja, a mudança que ocorre quando o corpo passa a queimar gordura e proteína em vez de “tiros de açúcar” levou quatro semanas para mim, mas pode demorar mais. Eu pesquisei sobre isso antes de começar a experiência e formulei a melhor maneira de fazer para não ter abstinência, conseguir perder peso e decidir ficar longe do açúcar. O vício emocional foi o mais difícil de cortar. Eu costumava me recompensar e me consolar com alimentos açucarados, mas superei esse obstáculo substituindo doces por lanches salgados.
Então não há açúcar bom?
Sarah – Alguns adoçantes são ok. Os únicos seguros são aqueles que não têm frutose (o agave, por exemplo, vendido como “sem açúcar”, tem de 70% a 90% de frutose). Os álcoois de açúcar (tipos de adoçantes de baixa caloria, provenientes de produtos vegetais e encontrados em sorvetes, biscoitos, pudins, doces e chicletes) também podem ser bem perigosos. Mas o xilitol é bom. Xarope de malte de arroz é o meu preferido, e stevia, que é feito de uma planta parecida com a hortelã.
No livro você indica uma dieta sem açúcar, inclusive o proveniente das frutas, até para crianças. Mas não é um pouco perigoso passar a fase de crescimento sem esses nutrientes?
Sarah – Uma vez que se tenha feito o programa de desintoxicação de oito semanas, você deve reintroduzir frutas inteiras (nunca suco de frutas). Uma ou duas frutas com baixa frutose por dia é ótimo se você não estiver consumindo outra fonte de açúcar.
E você nunca caiu em tentação depois de abandonar o açúcar?
Sarah – Estou sem açúcar há mais de cinco anos e, quando eu como – sim, eu tenho esses momentos, especialmente quando estou exausta –, anoto como estou me sentindo e logo volto aos trilhos. O programa de oito semanas que sugiro no livro não tem a ver com perfeição. Ou rigidez. É um experimento suave, e lapsos são completamente normais, é importante a pessoa não ser tão dura consigo mesma. Estive no Brasil ano passado e provei brigadeiro – eles são deliciosos, e eu entendo a tentação! (AG)