Confira parte do relato da atriz e modelo Isabeli Fontana sobre a sua experiência com o Coronavírus para o jornal O Globo:
“Sabe a sensação de levar um tapa na cara? Que te tira do transe e te faz prestar atenção à sua volta? Uma bofetada que chacoalha a sua vida e você passa a perceber que estava andando sem rumo, dando voltas, e que, por isso, não ia chegar aos seus objetivos? É a impressão que tenho depois de contrair o novo coronavírus
O Di (Ferrero, ex-vocalista do NX Zero e marido de Isabeli há sete anos) foi um dos primeiros brasileiros diagnosticado com a Covid-19, logo no início de março. Passamos uma temporada em Nova York, onde ele fez um curso de inglês, e na turma havia gente dos quatro cantos do mundo: Índia, Coreia, China, Inglaterra… Na volta ao Brasil, fomos para Florianópolis, onde temos uma casa, e ele começou a se sentir mal: tossia muito e teve uma febre que não baixava. A tomografia do tórax confirmou a inflamação no pulmão. Eu me sentia bem, mas, resolvi fazer o exame também. O do Di confirmou a síndrome respiratória aguda grave, mas o meu resultado deu negativo. Uma semana depois, repeti o exame. E, de novo, o teste constatou que eu estava livre do vírus. O isolamento social ainda não havia sido decretado e precisei viajar a trabalho para São Paulo. Fui para o aeroporto equipada, morrendo de medo de contaminar alguém.
Aconteceu tudo de uma hora para a outra: bastou eu entrar no meu apartamento paulistano para passar mal. Comecei a sentir calafrios, depois umas ondas de calor. Cancelei a agenda. A minha preocupação era passar a doença para os meus filhos. Entrei em pânico porque o Zion (seu filho, de 17 anos, com o modelo Álvaro Jacomossi) tem asma. Desinfetei a casa inteira para ele entrar, pegar roupas e passar uns dias com a avó. O Lucas ficou com o Henri (Castelli, ator e pai do menino de 13 anos). Senti umas pontadas no peito que não chegaram a me preocupar, mas achei prudente fazer uma tomografia. A médica disse que estava com o ‘padrão vidro fosco’, termo que os especialistas usam para indicar uma inflamação ou infecção nos pulmões. No meu caso, provocado pelo coronavírus. Ela disse que não sabia como eu estava respirando! Não fazia sentido ficar sozinha em São Paulo. Então, decidi pegar o carro e voltar para Florianópolis para ficar em quarentena com o Di.
Sempre fizemos caminhadas e trilhas. Foi assustador constatar que não tínhamos energia para nada disso. Atividades corriqueiras, como escovar os dentes e até descer as escadas de casa, me cansavam. Interpretei esses sinais como um pedido para o meu corpo descansar. O aviso foi claro. Tive que aprender na marra a acalmar a mente. Às vezes, é preciso dar um tempo e resolvermos primeiro as questões internas para, em seguida, solucionamos os problemas externos. Por imposição do vírus, me desconectei de tudo por um mês, mas esse período não foi um tempo perdido. Pelo contrário, tive um fortalecimento enorme. De repente, me deparei com questões importantes, como: o que estou fazendo com a minha vida?
Durante o isolamento, li muito sobre autoconhecimento. Parei nas palestras do Joe Dispenza, um neurocientista americano. Uma frase recorrente dele é: ‘Cuidado com o que você foca porque é lá que a sua energia vai estar’. E a gente foca em tudo, menos em nós mesmos. Vivemos ansiosos, pensando no passado e no futuro. E a única certeza que temos é o presente. Descobri exercícios de respiração que ajudam a focar no momento. E, assim, o estresse diminui.
O coronavírus serviu para eu prestar atenção nisso. O desafio será continuar nesse caminho. É natural que, ao voltar a trabalhar, a rotina acabe me engolindo novamente. Estou nesse ritmo desde os 13 anos — tenho 37! Era uma criança quando comecei. Outro dia, me olhei no espelho e não vi mais aquela menina. Envelheci e não vi o tempo passar. Sou muito brava e nervosa. Minha família toda é assim. Quero mudar porque sofro com esse comportamento. Tenho certeza de que essa doença veio para me mostrar isso. Estou saindo dela uma pessoa melhor”.