O ex-jogador e hoje treinador Cuca abriu sua primeira coletiva como técnico do Corinthians afirmando que é inocente no caso de violência sexual ocorrido em 1987, na Suíça. Em 40 minutos de entrevista, ele respondeu, principalmente, perguntas a respeito da condenação que sofreu em Berna, na Suíça, por estupro a uma menina de 13 anos, quando ainda era jogador do Grêmio, e que provocou uma série de protestos de torcedores contra a sua chegada.
Ele afirmou ser “totalmente inocente”, disse ter “vaga lembrança” do episódio ocorrido em 1987 – a condenação se deu em 1989 – revelou arrependimento por ter falado pouco sobre o assunto, prometeu “passar por cima” dos protestos contra a sua contratação e manifestou o desejo de abraçar causas sociais em benefício das mulheres e que combatem casos de violência e abuso sexual.
“É um tema delicado, pessoal, mas faço questão de falar e ser aberto. Eu estava no Grêmio há uns 20 dias. Tenho vaga lembrança de tudo que aconteceu. Na lembrança que tenho, tinha 23 anos, íamos jogar uma partida e pouco antes subiu uma menina para o quarto. O quarto em que eu estava com mais três jogadores era duplo, tinha duas camas. Essa foi minha participação nesse caso”, começou por dizer o treinador.
“Sou totalmente inocente, não fiz nada. As pessoas falam que houve um estupro. Eu não fiz nada”, enfatizou Cuca. “A gente vê e ouve um monte de coisas falando inverdades, chegando a me ofender. Vou fazer 60 anos, tenho duas filhas, de 32 e 34 anos. Venho de uma casa em que sou o único homem”, defendeu-se.
Arrependimento
Cuca falou muito mais de 1987 do que 2023. Avaliou que um de seus erros foi ter falado pouco a respeito do caso que o levou à condenação pela Justiça suíça e alegou não ter podido se defender à época. Segundo ele, a vítima declarou que o treinador, então jogador à época, não foi um dos agressores.
“O meu erro foi não ter me defendido. Primeiro, não tinha dinheiro para me defender. Segundo, nem soube que eu tinha sido julgado. Por três vezes, a moça esteve lá na frente. Ficamos para averiguação. Eu juro por Nossa Senhora que eu não estava. Como posso ser condenado pela internet? A internet te julga e te pune”, declarou.
Protestos
Ele revelou o desejo de participar de movimentos contra abusos e que defendem as mulheres. “Sou pai, sou avô. Quero que as mulheres estejam cada vez mais protegidas. Por isso estou aqui. Mais da metade da torcida do Corinthians é feminina. Um time que tem a causa respeita às minas. Essa causa que está existindo eu quero abraçar também até por proteção às minhas filhas, minha mulher, minha irmã”, comentou. “Por que eu devo uma desculpa pra sociedade se eu não fiz nada?”, voltou a repetir.
Gatilho
Do lado de fora do CT Joaquim Grava, um coletivo de torcedores, formado majoritariamente por mulheres, protestou contra a contratação do treinador. Uma delas, Luciana, contou que uma amiga, vítima de abuso infantil, não teve forças para se manifestar porque o caso de Berna gerou gatilhos nela.
O técnico disse que “não é bandido” e afirmou não se importar com as manifestações pedindo a sua saída. “Do fundo do coração, pode haver protesto, mas ele não é maior que minha vontade de estar aqui”, salientou o técico. “Eu vou passar por cima de tudo, de protesto, do que tiver. E se não tiver, vou me fortalecer. Hoje eu sou Corinthians”.
Entenda o caso
Então meio-campista do Grêmio, Cuca foi detido em 1987 com os também atletas Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, sob a acusação de “manter atos sexuais” com uma menina de 13 anos em um hotel em Berna, na Suíça.
Os jogadores permaneceram em cárcere por 30 dias. Fernando foi o primeiro a ser liberado, já que a sua participação no ato não foi comprovada. Dois anos mais tarde, Cuca acabou condenado a 15 meses de prisão e ao pagamento de US$ 8 mil. Julgado e condenado, ele não cumpriu pena porque o caso prescreveu. Em matéria publicada à época pelo Estadão, o treinador disse que o episódio o fez adquirir “experiência e maturidade”.
Em depoimentos à época, a vítima narrou ter sido segurada à força pelos quatro jogadores do Grêmio. O processo permanece sob sigilo protegido pela lei de proteção de dados da Suíça. O julgamento foi feito à revelia, já que ele e os outros gremistas envolvidos no caso já haviam voltado ao Brasil depois de serem liberados ao fim da fase de instrução no processo.