Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 16 de março de 2021
O diretor americano Spike Lee presidirá o júri do Festival de Cinema de Cannes de 2021 e vai se tornar primeira pessoa negra a assumir esse papel, confirmaram os organizadores nesta terça-feira (16). Lee ocuparia a presidência do júri em 2020, mas a pandemia forçou o cancelamento da competição de cinema.
Este ano, o festival, que costuma acontecer em maio, foi adiado pelo mesmo motivo e está programado para acontecer de 6 a 17 de julho.
O americano é “um dos maiores diretores de sua geração”, disse um comunicado oficial. “Há 30 anos, o incansável Spike Lee traduz com precisão as questões de sua época de uma forma resolutamente contemporânea que nunca deixa o entretenimento de lado”, diz a nota.
Em uma conversa gravada e divulgada no Twitter, Spike Lee aceita a proposta de presidir o júri feita pelo delegado geral do festival, Thierry Frémaux. “Reserve meu voo agora, eu e minha esposa iremos!” para Cannes, afirma o diretor.
Se as condições sanitárias permitirem, o Festival de Cannes será o primeiro grande festival do ano a ser realizado presencialmente, já que a maioria dos concursos migrou para formatos híbridos ou online, como o Sundance e Berlinale.
Artistas negros americanos – como a cineasta Ava DuVernay em 2018 e o ator Will Smith em 2017 – já foram membros do júri do Cannes, mas esta é a primeira vez que um negro é presidente.
Sendo assim, os sinais de que a sétima arte começa a dar mais espaço para a diversidade racial estão se multiplicando, como também evidenciado nas indicações ao Oscar de nove atores “não brancos”, anunciadas na segunda-feira.
Contra a discriminação racial
Lee, de 63 anos, é uma figura da luta contra a discriminação racial e apoiou a carreira de vários cineastas afro-americanos. Este compromisso é refletido nos seus filmes, incluindo seu último trabalho “Destacamento Blood”, que estreou em 2020 na Netflix, sobre um grupo de ex-combatentes negros da guerra do Vietnã. O filme é protagonizado por Chadwick Boseman, o primeiro super-herói negro de Hollywood (Pantera Negra), falecido em agosto vítima de um câncer.
Lee apresentou sete de seus filmes no Festival de Cannes e foi premiado com o Grande Prêmio em 2018 por “Infiltrado na Klan”, baseado na história real de um policial negro que se infiltrou na Ku Klux Klan.
O filme, que ataca diretamente o ex-presidente americano Donald Trump, rendeu também seu primeiro Oscar na competição, depois de ter recebido uma estatueta honorária em 2016.
Em Cannes, tudo começou em 1986, quando o diretor apresentou na Quinzena dos Diretores seu primeiro longa-metragem “Ela Quer Tudo”, um filme gravado em duas semanas em preto e branco, que acabou se transformando em uma série da Netflix trinta anos mais tarde. O filme foi homenageado com o Prêmio da Juventude.
“Aquilo foi a minha estreia no mundo do cinema. Cannes sempre ocupará um grande lugar no meu coração”, disse Lee no vídeo postado no Twitter.
Três anos depois, ele concorreu com “Faça a Coisa Certa”, no qual abordava as tensões raciais no distrito nova-iorquino do Brooklyn. Depois, competiu com “Febre Selvagem” (1991, na competição), “Garota 6” (1996, fora da competição), “Dez Minutos Mais Velho” (2002, na seção Um Certo Olhar) e, por último, “Infiltrado na Klan”.
Junto ao seu júri, cuja composição será revelada em junho, Spike Lee enfrentará a difícil tarefa de buscar um sucessor para “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon-ho, Palma de Ouro 2019 e grande vencedor do Oscar 2020.
Lee vai substituir o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, presidente do júri em 2019.