A retração no mercado de tecnologia, que afeta principalmente as startups de crescimento rápido, reduziu investimentos na área e, principalmente, forçou essas companhias a reajustar a rota. Após movimentos agressivos de expansão durante a pandemia, as demissões se tornaram uma realidade para um segmento que ficou conhecido pelas contratações.
Pelo menos 3,9 mil pessoas foram incluídas nas demissões em massa feitas por startups do Brasil. O número trata apenas dos “unicórnios”, startups com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão – no País, há 24 delas.
Entre os unicórnios, como são chamadas as startups, que fizeram demissões em massa em 2022 estão 99, Loggi, Quintoandar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, Madeiramadeira, Mercado Bitcoin, Olist, Unico, Hotmart, Dock e Wildlife.
A conta leva também em consideração os cortes no unicórnio mexicano Kavak, que tem no Brasil o seu principal mercado e demitiu 300 pessoas por aqui no primeiro semestre.
A Loft, de compra e venda de imóveis, é quem lidera o ranking, com 855 demissões. Ao longo do ano, foram realizadas três rodadas de cortes, com cerca de 12% do quadro afetado em cada uma. A companhia afirma que as dispensas foram para otimizar o negócio, após aquisições de outras companhias durante a pandemia.
No Brasil, as demissões em unicórnios tiveram início em abril, quando o Quintoandar (também do ramo imobiliário) dispensou 160 funcionários após bancar um patrocínio inédito no Big Brother Brasil. Em seguida, empresas como Facily (300 pessoas), Mercado Bitcoin (190 pessoas), Ebanx (340 pessoas), Loggi (540 pessoas) e Hotmart (240 pessoas) engrossaram o caldo das demissões.
No levantamento, dos 24 unicórnios, 16 realizaram grandes cortes com fins de enxugamento de custos. O quadro é ainda pior para o mercado de startups. A healthtech Alice cortou mais de 170 até dezembro, enquanto a Buser enxugou em 30% o pessoal (cerca de 165 funcionários). Esses números estão fora do levantamento.
Queda global
As empresas têm realizado centenas de demissões pelo mundo – o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de “inverno das startups”, após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia nos últimos dois anos.
Segundo especialistas, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva.
Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando o apetite dos investidores por risco era maior.
O processo tem sido especialmente duro com as startups maiores, que estão no “late stage”, estágio em que queimam dinheiro velozmente na tentativa de crescer e ganhar mercado.
Nos primeiros meses do ano, fundos de investimento alertaram as startups sobre o cenário desafiador. O investidor Masayoshi Son, presidente do Softbank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse em abril que o conglomerado japonês reduziria os investimentos em empresas de tecnologia neste ano. A aceleradora Y Combinator, uma das mais conhecidas no Vale do Silício, recomendou que as startups reavaliassem suas finanças e ficassem prontas para cortar gastos e suportar até 24 meses sem investimentos.