Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 18 de julho de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No dia 23 do mês passado, o médico de Teresina, no Piauí, Eduardo Melo, foi indiciado pelo crime de homicídio culposo por morte de uma criança de 6 anos, durante procedimento cirúrgico ocorrido em 16/02/2003. A menina, portadora de insuficiência renal crônica, necessitava da purificação do sangue por meio de hemodiálise.
No momento da introdução do cateter houve punção acidental e lesão da artéria subclávia. Subsequentemente, com a hemorragia, a criança evoluiu para óbito.
A mídia, na divulgação do fato, foi massacrante e até acusou o médico de assassino!! No dia seguinte, por não estar preparado psicologicamente por esta difamação, Suicidou-se!!
No dia 24/06/2023 a Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica, em protesto suspendeu as cirurgias eletivas, por sete dias. O suicídio de médicos voltou à tona.
A taxa de suicídio entre nós é muito maior que a da população em geral. E uma epidemia silenciosa! Evidentemente o fato pode ser explicado pela conjunção de diversos fatores, mas o principal é inerente a nossa profissão: salvaguardar a saúde, o nosso bem maior. A perda dela pode significar o pior: A morte! Muitas vezes as decisões estão sobre um clima de muita pressão. Compartilhar o sofrimento com outro ser humano exige um preparo psicológico ímpar e especial. Outros fatores etiológicos coadjuvantes são: Ambiente e condições de trabalho desfavoráveis, carga horária laborativa excessiva, poucas horas de lazer e descanso, conflitos hospitalares, econômicos e familiares. O “Research Center da Afya” entrevistando 3.115 médicos brasileiros concluiu que a média de trabalho semanal é de 53 horas. Cerca da metade das nossas instituições de saúde permitem trabalho contínuo por mais de 24 horas.
A exaustão física e psíquica pode levar a “Síndrome do esgotamento” (Burnout): É um atestado de incapacidade de desempenhar a atividade médica com equilíbrio e racionalidade.
O risco de suicídio entre os médicos é de 2 a 3 vezes maior que a população em geral.
Estudo dinamarquês concluiu que, entre 55 profissões estudadas, o médico é o que tem maior risco.
Estatísticas americanas estimam que nos EUA, um médico morre por dia de suicídio!
Dutheil, em 2019, fazendo uma revisão sistemática da literatura obteve conclusões interessantes: As médicas têm maior risco que os médicos. Entre as especialidades, são citados os cirurgiões gerais, os psiquiatras e os anestesistas. Os médicos divorciados e os que não tem filhos também tem uma incidência maior.
Evidentemente que o combate e prevenção do alto índice de suicídio médico deve ser abordado por diferentes ângulos.
A avaliação individual do perfil, do psiquismo e da conduta do médico deve ser feita pelas faculdades, pelas associações médicas e até pelos próprios colegas.
Do ponto de vista global e institucional é primordial a melhoria das condições e ambiente de trabalho. É fundamental o cumprimento das normas regulatórias, principalmente em relação a carga horário e o descanso.
Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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