O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) abriu um processo investigatório na última quinta-feira (26) para avaliar suposta propaganda da Kent, marca da Souza Cruz, em postagens feitas em redes sociais. Como a propaganda comercial de cigarros e de qualquer produto que produz fumo é proibida no Brasil, o objetivo é apurar se as ações desobedecem o que recomenda o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, além de identificar os responsáveis pela campanha.
Circulam postagens em rede social que têm em comum a hashtag #Aheadbr — são mais de 660 desde meados de agosto no Instagram — como mostrou reportagem da revista Exame. Grande parte dessas imagens mostram pessoas e influenciadores fumando. Uma das postagens mostra um maço de cigarros Kent. O perfil ahead.br no Instagram é descrito como “uma rede que conecta jovens empreendedores, apoia iniciativas e inspira novas experiências na moda, música e design”.
No mercado publicitário, a avaliação é de que pode se tratar de uma campanha principalmente pelo conceito estético bem trabalhado e definido das imagens postadas, além da qualidade das fotos.
Procurada, a Souza Cruz negou estar por trás da campanha, afirmando que “quaisquer ações de comunicação, como divulgação de fotos de pessoas fumando nas mídias sociais, não são realizadas ou incentivadas pela empresa”. E que comercializa suas marcas, como Kent, “exclusivamente em pontos de venda e somente para maiores de idade, conforme determina a lei”.
O processo investigatório aberto pelo Conar será conduzido pelo presidente de uma das oito câmaras de ética da entidade. Durante o andamento do processo, não há divulgação de informações até a conclusão do trâmite. Dependendo do resultado, pode originar um processo contencioso.
A médica Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Conig (Convenção Quadro para o Controle do Tabaco) ligada ao Instituto do Câncer e ao Ministério da Saúde, ponderou que o posicionamento do Conar é necessário em um caso como o de uma possível publicidade de cigarro em redes sociais.
“O Conar precisa se posicionar. Nós (Coniq) estamos nos articulando para pedir providências ao Ministério Público no sentido de investigar a ação. O controle do tabagismo no Brasil é muito lento porque, no caso desta doença, temos de enfrentar um vetor (transmissor) com CNPJ, que conduz ações políticas e econômicas que impedem o desenvolvimento de ações de saúde para reduzir o consumo, as doenças e as mortes geradas por esse mal.”
Ela destaca que a maior parte das ações ligadas à promoção de cigarros está direcionada ao público jovem, com estandes em festas e festivais, entre outras. Mais de 80% dos fumantes, diz Tânia, têm o primeiro contato com o cigarro antes dos 18 anos, em média aos 15. E que dois em cada três fumantes morrem em decorrência a doenças relacionadas ao tabaco.
O Ministério da Saúde reforça que a propaganda de produtos de fumo é proibida no Brasil, e que a pasta tem realizado ações de combate ao uso do tabaco, ampliando aquelas destinadas aos grupos considerados como mais vulneráveis: jovens, mulheres, população de menor renda e escolaridade, indígenas e quilombolas. Outra frente foi a criação de uma política de preços para o cigarro, com aumento de impostos dos produtos derivados do tabaco. Nos últimos dez anos, o número de fumantes adultos recuou em 35%.