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“Supremo Tribunal Federal é alvo do populismo autoritário”, diz o presidente da Corte

Ministro afirmou ter ficado na mira de um ex-presidente da República e que o papel das instituições é trabalhar pela pacificação do país. (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)

O STF (Supremo Tribunal Federal) tornou-se alvo preferencial do “populismo autoritário”, disse o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.

Para o ministro, o STF muitas vezes é criticado por pessoas que não gostam da própria Constituição. O ministro compara a importância do Supremo com a existência da própria Carta Magna, da qual o STF é o guardião.

“O Supremo foi eleito como o alvo porque o populismo autoritário tem a tendência natural de dividir a sociedade entre nós e eles. O ‘nós’ é o povo decente, trabalhador e conservador. E ‘eles’, as elites globalistas esquerdistas e corrompidas. Essa é a divisão típica do populismo. Quando é um populismo de direita; tem populismo de esquerda, que também é muito ruim. Portanto, o populismo tem a necessidade de eleger inimigos e a corte foi eleita o inimigo”.

Sem citar o nome de Jair Bolsonaro, Barroso afirmou ter ficado na mira de um ex-presidente da República e que o papel das instituições é trabalhar pela pacificação do País. Para Barroso, a polarização faz parte da democracia e não deve ser alimentada por agressões.

“A grosseria é sempre uma derrota do espírito. Nem quando o ex-presidente dizia as coisas mais grosseiras em relação a mim nunca me pareceu próprio responder no mesmo tom. Se eu respondesse no mesmo tom, então eu teria perdido. A gente precisa recuperar a civilidade e a polarização política”, disse.

Barroso citou as campanhas eleitorais deste ano como lugares de manifestação de baixa civilidade e grosserias. “Só pode ser um cretino completo a serviço de alguma causa escusa. Quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, é meu parceiro na construção de uma sociedade aberta e e plural”, pontuou.

Perguntado sobre a possibilidade de prisão no Brasil, mais uma vez, de um ex-presidente da República, em alusão aos casos contra Bolsonaro, o presidente do STF evitou previsões.

“A minha bola de cristal está bem embaçada e ela tem um defeito de que, geralmente, só enxerga para trás. Olhando em termos de história, eu procuro olhar além da fotografia e ver o filme. O filme da história brasileira, sobretudo, da redemocratização brasileira”, Barroso direcionou o assunto para o que considera serem os reais problemas do Brasil.

“Anos atrás, as minhas preocupações eram: como acabar com a tortura que desonrava as instituições do país, como acabar com a censura que estava presente em todas as redações de jornais, era como criar instituições democráticas num país e num continente. Hoje, as minhas preocupações são: como melhorar a qualidade da educação básica no Brasil, como enfrentar adequadamente a mudança climática que o Brasil assumiu um papel de liderança, convencer as pessoas que a gente tem que investir em Ciência e Tecnologia, porque esse é o futuro”, resumiu.

“Neste processo, por isso que eu de vez em quando uso a expressão: a gente tem que empurrar a história. Não é empurrar a história na direção que eu quero, [mas] empurrar a história na direção que a Constituição determina”.

Bem humorado, Barroso afirmou que ministro do STF precisa estar em dia com a terapia. “A gente está sempre desagradando alguém. Juiz e ministro do Supremo tem que ser um sujeito bem ‘analisado’ porque o grau de rejeição é relevante. E o sujeito que ficou feliz hoje, está desagradado amanhã com outra decisão”.

O ministro citou o agronegócio brasileiro e as comunidades indígenas como exemplo de interessados em decisões do Judiciário e que nem sempre saem satisfeitos com o STF.

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