Nos últimos anos, pesquisadores e indústria farmacêutica têm buscado uma alternativa para tratar a doença de Alzheimer ou mesmo retardar seu aparecimento sem quase nenhum sucesso. Resultados preliminares da ação de dois novos medicamentos, porém, sugerem que existe uma forma de impedir a formação das placas de proteína no cérebro que levam à perda da memória. Pesquisadores estão com um pé atrás, no entanto.
É a primeira vez que os pesquisadores apresentam substâncias com o potencial de atrasar o desenvolvimento da doença, em vez de apenas aliviar seus sintomas. Um dos produtos é o solanezumabe, da farmacêutica Eli Lilly. O outro é o aducanumabe, da Biogen. Ambos são anticorpos monoclonais – proteínas produzidas naturalmente pelo corpo humano, mas alteradas e replicadas em escala pelos pesquisadores.
Embora os pacientes possam ficar esperançosos, os resultados foram menos impactantes do que esperavam os investidores, especialmente os da Biogen, cujas ações nos Estados Unidos caíram 4% após a apresentação – os papéis da Eli Lilly subiram 1%.
A explicação é que a Biogen tinha causado anteriormente alvoroço na comunidade médica (e na Bolsa de Valores) ao antecipar alguns resultados em março. O medicamento se mostrou seguro e eficiente contra as placas de proteína em cérebros de camundongos, mas os resultados em humanos não foram tão animadores, especialmente porque os pesquisadores enfrentam o desafio de encontrar as doses corretas a serem aplicadas.
Doses mais altas são mais efetivas, mas apresentam alta taxa de efeitos colaterais, como edema no cérebro. Doses menores de fato reduziram um pouco os efeitos colaterais, mas se mostraram, em um estudo com 30 pacientes, pouco úteis para reduzir a sua perda cognitiva após um ano de tratamento.
Tais resultados podem ser interpretados tanto pelo lado ruim – os pesquisadores estão perdidos quanto à dose ideal do remédio – quanto pelo bom – se alterações na dose de uma droga mudam os resultados observados, trata-se de um sinal de que ela tem um efeito real no organismo.
Jeffreu Sevigny, diretor-sênior da Biogen, afirmou que os resultados são “fantásticos” e que a empresa já deu início a outros levantamentos para conseguir lançar a droga no mercado nos próximos anos.
No caso da Eli Lilly, a substância mostrou ter efeitos positivos especialmente em pacientes com a doença ainda em estágios moderados, mas dados mais detalhados só serão divulgados no começo de 2017, quando for concluído um teste clínico mais robusto.
Em um estudo, os pacientes foram divididos em dois grupos. O primeiro começou a tomar o remédio um ano e meio antes do segundo.
No “mundo dos sonhos”, o primeiro grupo teria perdas cognitivas menores do que o segundo, já que os pacientes começaram a se medicar antes, mostrando a eficiência da droga, aplicada uma vez por mês por uma injeção na veia. O problema é que isso só aconteceu por um tempo.
Até dois anos e meio após o começo da análise – ou um ano após o segundo grupo começar a ser medicado –, ainda era nítido que os sortudos que tiveram acesso ao remédio antes estavam em melhores condições. Ou seja, o medicamento estava atrasando os efeitos deletérios do Alzheimer.
Depois disso, porém, a decadência cognitiva atingiu os dois grupos igualmente. Maria Carrillo, pesquisadora-chefe da Associação do Alzheimer dos EUA, afirmou que os resultados são mesmo difíceis de se interpretar, mas destacou que nem por isso eles deixam de ser encorajadores. (Folhapress)