Domingo, 10 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de agosto de 2024
No bloqueio imaginado em Zero Day, série de TV taiwanesa que será lançada no ano que vem, mas que já está causando alvoroço, os militares chineses cercaram Taiwan, isolando a ilha democrática de 23 milhões de habitantes e a empurrando para uma crise.
Em um trailer de 17 minutos lançado na semana passada, a população reage ao bloqueio chinês com uma mistura de terror e resignação. Jovens casais passam de bicicleta por comboios de tanques em ruas vazias. Gangues criminosas provocam o caos em nome de Pequim e de suas reivindicações territoriais sobre Taiwan.
Os taiwaneses não deveriam lutar e, de todo jeito, jamais conseguiriam vencer, diz uma influenciadora a seus seguidores na série. “Aqueles que querem que entremos no campo de batalha – eles não se importam com nosso sofrimento”, diz ela.
É ficção, mas a perspectiva sombria da série sobre a prontidão dos taiwaneses para lutar toca em um problema bastante real enfrentado pelo presidente Lai Ching-te, que assumiu o cargo em maio e que Pequim considera um separatista perigoso.
A ameaça de Pequim se intensificou quando o líder chinês Xi Jinping declarou que a “reunificação” da China com Taiwan era inevitável. Ele ressaltou sua disposição de usar a força para atingir esse objetivo enviando um número crescente de aviões de guerra e navios da marinha para sondar as defesas da ilha.
O governo de Taiwan tem tentado melhorar suas defesas ampliando o serviço militar obrigatório e reformulando o treinamento de reciclagem dos reservistas como parte de uma mudança mais ampla na estratégia de defesa criada para fazer com que Xi pense duas vezes antes de apostar no uso da força.
Mas os jovens taiwaneses não estão respondendo ao chamado, e o Ministro da Defesa, Wellington Koo, recentemente reconheceu que a falta de equipamentos e instrutores retardou as tentativas de profissionalizar o treinamento dos reservistas. “Devo dizer honestamente que precisamos fortalecer [o treinamento], pois ainda há muito espaço para melhorias”, disse ele à assembleia legislativa em junho.
Essas confissões podem preocupar Donald Trump, que sinalizou uma abordagem mais transacional para o apoio americano à defesa de Taiwan, caso seja reeleito presidente em novembro.
Taipei quer criar uma força de reserva profissional para apoiar os 155 mil soldados na ativa. Todos os homens taiwaneses nascidos em 2005 ou depois são obrigados a se alistar para um ano de serviço. Cerca de 2 milhões de ex-soldados devem concluir um treinamento de atualização a cada dois anos.
Mas as autoridades reconheceram que estão atrasadas em relação aos planos de treinar reservistas e recrutas a suplementar as tropas da linha de frente em caso de guerra. Apenas 6% dos recrutas qualificados – 6.936 pessoas – participaram do recém-implementado programa de 12 meses este ano. A maioria adiou o serviço militar para fazer faculdade, o que significa que o grupo de admissão nascido em 2005 não estará totalmente treinado até 2027.
Aqueles que prestaram serviço militar este ano não estão passando pelo treinamento previsto. Um grupo seleto de recrutas com um ano de serviço deveria estar aprendendo a usar drones, foguetes antitanque Kestrel e mísseis superfície-ar Stinger, mas não havia recrutas suficientes para iniciar o treinamento este ano, de acordo com um representante do Ministério da Defesa.
O lento progresso de Taiwan na expansão do treinamento preocupa especialistas militares em Washington e Taipei, que estão pedindo às autoridades que ajam mais rapidamente para deter Xi e evitar uma guerra.
“A última coisa que Taiwan quer é que Xi Jinping, como principal tomador de decisões na China, e os Estados Unidos, como principal aliado de Taiwan, duvidem dos compromissos de Taiwan com sua própria defesa”, disse Matt Pottinger, que foi assessor adjunto de segurança nacional dos Estados Unidos no governo Trump e agora é pesquisador visitante na Hoover Institution. As informações são do jornal The Washington Post.