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Tatuagem é apontada como fator de risco para tipo de câncer; médicos analisam estudo

De maneira geral, os pesquisadores descobriram que pessoas com tatuagens apresentavam um risco 21% maior de desenvolver linfoma. (Foto: Reprodução)

Um estudo sueco demonstrou uma associação inédita entre a presença de tatuagem e um risco mais elevado para linfoma, conhecido como um tipo de câncer no sangue. Isso alça, no máximo, as gravuras na pele a uma posição de fator de risco para o problema, uma vez que ainda não é possível apontar uma causalidade – para isso, são necessárias mais pesquisas.

Médicos não envolvidos na investigação destacam que o estudo publicado na revista científica eClinicalMedicine, do respeitado grupo Lancet, é robusto e bem-feito, mas pedem cautela. “Gera muito mais uma pergunta do que chega a uma conclusão”, diz Guilherme Perini, hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “Acende uma luz amarela, não vermelha”, resume.

“Não vamos proibir ninguém de fazer tatuagem. A grande mensagem do estudo é que as pessoas que têm tatuagem precisam fazer um controle maior. Um checkup anual pelo menos”, afirma Vanderson Rocha, professor de Hematologia e Terapia Celular da Faculdade de Medicina da USP.

De acordo com o Ministério da Saúde, o linfoma é um câncer que afeta os linfócitos, células responsáveis por proteger nosso corpo de infecções. Ele se desenvolve principalmente nos linfonodos (gânglios linfáticos), popularmente conhecidos como “ínguas”.

Para a pesquisa, os cientistas recorreram aos Registros da Autoridade Nacional Sueca — o que já dificulta extrapolar os dados para populações de outros países — e identificaram casos de linfoma maligno diagnosticados entre 2007 e 2017, entre pacientes de 20 a 60 anos — embora alguns subtipos desse tipo de câncer sejam mais comuns com o avançar da idade, essa faixa etária foi escolhida porque aumentava a chance de encontrar mais pessoas tatuadas. Os pesquisadores usaram um questionário de estilo de vida, que foi enviado aos pacientes (ou aos familiares em caso de morte), para definirem quem tinha tatuagem e quem não tinha.

Ao todo, o estudo envolveu mais de 11,9 mil pessoas — 2.938 pessoas tiveram linfoma. Entre elas, 1.398 pessoas com diagnóstico responderam ao questionário, enquanto o número de participantes do grupo controle foi de 4.193. No grupo com linfoma, 21% tinham tatuagem, enquanto isso foi observado em 18% do grupo controle.

De maneira geral, os pesquisadores descobriram que pessoas com tatuagens apresentavam um risco 21% maior de desenvolver linfoma comparado a quem não tinha desenhos na pele. O risco variou conforme o tempo depois de tatuar, sendo mais alto nos primeiros dois anos (risco 81% maior) e aumentou significativamente após 11 anos (risco 19% maior).

“É importante lembrar que o linfoma é uma doença rara e que nossos resultados se aplicam a nível de grupo (ou seja, refletem a tendência para uma grande população, mas não devem ser usados para estimar o risco de um indivíduo específico). Os resultados agora precisam ser verificados e investigados mais a fundo em outros estudos, e tais pesquisas estão em andamento”, disse a epidemiologista Christel Nielsen, da Universidade de Lund, na Suécia, autora principal do estudo, em comunicado à imprensa.

Alguns especialistas vêm apontando na imprensa internacional que os resultados podem estar “hiperestimados”.

Cícero Martins, especialista em Oncologia Cutânea do Instituto Nacional de Câncer (Inca), acredita que essa pode, sim, ser uma possibilidade. “O estudo tem que ser avaliado com cautela. É um dado retrospectivo, e esses dados retrospectivos têm muitos vieses. Isso tem que ser levado em consideração.” Pelo ineditismo, o especialista brasileiro também aponta que a pesquisa é importante e destaca que a hipótese levantada precisa ser melhor estudada.

O grupo de pesquisa da Universidade de Lund afirmou que toca outros estudos para saber se existe alguma associação entre tatuagens e outros tipos de câncer. Eles também querem fazer mais pesquisas sobre outras doenças inflamatórias.

“As pessoas provavelmente vão querer continuar a expressar a sua identidade através de tatuagens. É muito importante que possamos garantir que isso seja seguro. Para o indivíduo, é bom saber que as tatuagens podem afetar a saúde, e que você deve procurar um médico caso apresente sintomas que acredite que possam estar relacionados a uma tatuagem”, afirmou Christel Nielsen. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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