Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de julho de 2022
O caso de uma paciente que denunciou que era mantida em cárcere privado no Hospital Santa Branca, de propriedade do cirurgião Bolívar Guerrero da Silva – preso pela denúncia –, trouxe outras denúncias de irregularidades à tona.
Uma delas é da vendedora Fernanda Almeida, de 24 anos. Ela se diz vítima de erro médico e que descobriu depois que a “médica” que fez o procedimento nela era, na verdade, a técnica de enfermagem Kellen Cristina de Queiroz dos Santos, de 31 anos.
“Para mim, a Kellen era médica. Tanto que tratei minhas cirurgias com ela. Ela, inclusive, cobrava a mais para estar na cirurgia. Dizia que o doutor Bolívar era muito ocupado e não conseguia dar tanta atenção depois, no pós-operatório. Mas que, se a paciente topasse pagar a mais, ela daria toda assistência no pré-operatório, durante e nos pós”, contou.
Fernanda se submeteu a uma cirurgia de colocação de silicone, em janeiro de 2021, e a um retoque, em agosto do mesmo ano.
Fernanda conta que Kellen oferecia/vendia as cirurgias, mas sempre se apresentava como médica, usava jaleco branco no hospital e era tratada como tal no Santa Branca.
Com a promessa de que receberia todo suporte e atenção na sua cirurgia, Fernanda aceitou pagar a mais para Kellen. O procedimento de janeiro, que custaria R$ 7 mil só com Bolívar Guerrero, foi para R$ 8,1 mil para ter a ajuda e assistência de Kellen Queiroz.
Prints apresentados por Fernanda, nas tratativas para o procedimento, Kellen detalha como cuida das pacientes e oferece inclusive um atestado para Fernanda para que ela consiga ser liberada do trabalho.
A reportagem tentou contato por telefones de Kellen, mas não conseguiu falar com a técnica de enfermagem. Em depoimento à polícia, ela disse atuar apenas como “suporte técnico” e na captação de pacientes.
Questionada se tem ciência das denúncias de que Kellen opera as pacientes, a polícia disse apenas que o caso está em fase de investigação.
Possível cirurgia com Kellen
Ainda segundo o relato, após a primeira cirurgia, ao perceber que o resultado não tinha ficado como esperava, Fernanda recorre a Kellen, que prontamente responde que os inchaços no local operado podem alterar a forma do seio e marca um revisão.
“Vem, minha linda, pra eu te ver. Você está causando com esses seios. Muita gente me ligando e querendo um igual. Estão babando no seu seio. Vamos benzer”, diz print da conversa entre Kellen e Fernanda e que também fazem parte do processo que a ex-paciente move contra a técnica de enfermagem e Bolívar Guerrero.
Em fevereiro, quase um mês depois da cirurgia, Fernanda pede ajuda com as cicatrizes e recebe a indicação de uma pomada de Kellen.
Ela também voltou ao que diz ser o consultório da técnica de enfermagem para mais uma revisão e, ao não se satisfazer com o resultado da primeira cirurgia, que teria deixado os seios tortos e caídos, pede um retoque.
O mesmo foi marcado para agosto de 2021 e, novamente Fernanda pagou a mais novamente para ter o suporte de Kellen.
“No primeiro procedimento, levei anestesia geral e apaguei. Mas, na segunda, tenho certeza que foi ela que me operou. Eu ouvia a voz dela na sala de cirurgia, fazendo as coisas. No segundo procedimento, só vi o doutor Bolívar na hora que ele saiu de um outro centro cirúrgico, com as luvas ainda sujas de sangue e veio marcar o meu peito. Quando fiz uma cara de nojo, ele tirou uma das luvas e jogou fora. Marcou o peito e foi embora”, diz Fernanda.
Ela conta que, além de não ter tido Bolívar em seu procedimento, foi destratada por uma anestesista que disse: “Essa aí está gostando de fazer cirurgia”, e não recebeu o mesmo suporte da então “dr. Kellen”.
O resultado da segunda cirurgia não melhorou a situação. Os seios foram levantados, mas ficaram com auréolas diferentes e um peito mais para cima do que o outro.
Kellen também não apareceu para tirar o dreno, como havia tratado com sua “paciente”, segundo Fernanda.