Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de agosto de 2019
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) sabe o tamanho da responsabilidade que tem e suas declarações diárias na porta do Palácio do Alvorada, em grande parte polêmicas, têm sempre destinatário. “Ele tem uma forma direta e incisiva, que muitas vezes choca um segmento, mas ele sabe exatamente onde está atingindo e quem está chocando”, diz o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP).
“É cada um se adaptar ao estilo do chefe, e não esperar o chefe se adaptar ao estilo de cada um”, afirma.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o senador, antigo aliado de Bolsonaro, afirma que o presidente, com seu “jeito muito próprio de se comunicar”, não se preocupa em ofuscar a pauta positiva do governo.
“Ele confia demais no próprio taco e acaba se expressando, conscientemente, muitas vezes sabendo o revés que vai tomar.”
No momento em que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, está sob ataque, o senador sai em defesa do ex-juiz e diz que Bolsonaro tem dois suportes com a opinião pública: Moro e Paulo Guedes (Economia).
Alvo de crescentes questionamentos depois do vazamento de mensagens trocadas com procuradores da Operação Lava-Jato na época em que era juiz, Moro, afirma Major Olímpio, é como “massa de pão”. “Quanto mais você bate, mais cresce”, diz.
1) O Congresso retomou seus trabalhos depois de um período marcado por declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro. Como essas falam interferem no processo legislativo?
Tenho convicção que não interferem. Bolsonaro tem um jeito muito próprio de se comunicar e de se expressar. Polêmico e ácido muitas vezes. É o estilo dele, que ele vem utilizando a vida toda e que o notabilizou.
Ele sabe o tamanho da responsabilidade que tem. São polêmicas algumas falas? Sem a menor dúvida. Ele tem uma forma direta e incisiva, que muitas vezes choca um segmento, mas ele sabe exatamente onde está atingindo e quem está chocando.
2) Pessoas próximas a Bolsonaro concordam com essa avaliação, mas dizem que o presidente deveria se policiar porque ele acaba ofuscando a pauta positiva do governo.
Mas ele não vai. Não adianta tentar policiar. Pessoas próximas a ele, se são próximas de verdade, deveriam conhecer o estilo Jair Bolsonaro de ser. Ele nunca foi o politicamente correto.
Bolsonaro aposta muito nesse feeling dele, de estar fazendo a comunicação direta. Não vai mudar. Ele não se preocupa, de verdade, em ofuscar a pauta. Ele não poupa dar o recado dele, mesmo sabendo que pode ter até, momentaneamente, um viés de contrariedade de um segmento da população.
3) O sr. disse que ele sabe quem está atingindo com essas declarações. Tem uma estratégia, então?
A estratégia Jair Bolsonaro. Quem era o marqueteiro do Jair Bolsonaro? Jair Bolsonaro. Quem era o assessor de imprensa? Jair Bolsonaro. Por mais que ele tenha grandes profissionais ao lado dele hoje, um staff de governo, os ministros, o presidente tem o estilo dele de ser.
A gente não brincava na campanha com o “é bom Jair se acostumando”? Então… Ele confia demais no próprio taco e acaba se expressando, conscientemente, muitas vezes sabendo o revés que vai tomar. Ele é irônico, sarcástico, ácido, mas é inteligente. É cada um se adaptar ao estilo do chefe, e não esperar o chefe se adaptar ao estilo de cada um. Muitas vezes acaba se potencializado, como o episódio com o pai do…
4) Do presidente da OAB
Tinha uma contenda antiga da votação do impeachment da Dilma [Rousseff]. Quando o Bolsonaro fez aquela referência ao [coronel Carlos Brilhante] Ustra, o [Felipe] Santa Cruz, que ainda não era o presidente da OAB, fez uma mobilização pela cassação do Bolsonaro. Existia uma coisa meio de ordem passional. Houve o exagero na manifestação. Quando mistura a coisa de família ou vai remanescer passado bastante conflitante em termos de informações, acaba dando essa repercussão.
É o que sempre digo: a língua é o chicote da bunda. Depois não dá nem para se arrepender, mas tenho certeza que depois, fazendo uma avaliação, [o presidente] deve ter pensado que o remédio foi muito forte.
5) Nos últimos dias, intensificaram-se os relatos de incômodo com o ministro Sérgio Moro (Justiça). Como o sr. avalia a relação dele com o presidente?
Tenho 41 anos de serviço policial, e raramente me equivoco em relação às pessoas. Não consigo ver no ministro Moro um perfil de alguém que é um adversário do presidente ou do governo. Ao contrário.
Vejo hoje que os principais ministros e suportes para o governo Bolsonaro com a opinião pública são Paulo Guedes [Economia] e Moro. Quanto mais bordoada ele toma por causa dos vazamentos do Intercept, mais o povo diz ‘esse cara é melhor do que eu pensava’. Ele é a massa de pão mesmo. Quanto mais você bate, mais cresce. É impressionante.
Não vejo o Moro ter viés político-partidário para, lá na frente, ser adversário do presidente. Agora, é uma figura muito forte com a opinião pública. Se me perguntasse o que ele poderia fazer no futuro, diria que seria o vice do Bolsonaro dos meus sonhos para, eventualmente, ser um sucessor dele.