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Tema do filme “Ainda Estou aqui”, processo sobre a morte do deputado Rubens Paiva tramita no Supremo, que julga se militares podem responder pelo crime

Rubens Paiva foi assassinado em janeiro de 1971. (Foto: Arquivo pessoal)

O processo que apura as circunstâncias da morte do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado em janeiro de 1971 durante o regime militar, ainda aguarda uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Caberá à Corte definir se a ação penal contra os militares acusados da morte do político pode ou não prosseguir. A trajetória de Rubens Paiva é retratada no longa “Ainda Estou Aqui”.

Em novembro do ano passado, o relator, ministro Alexandre de Moraes, determinou o envio do caso para parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR). A resposta ainda não foi recebida. O tema chegou ao Supremo em 2021, a partir de um recurso do Ministério Público Federal contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que suspendeu o andamento da ação penal.

O recurso ao STF discute se é possível a aplicação da Lei da Anistia ao caso e se os crimes atribuídos aos militares são imprescritíveis — ou seja, ainda podem ser julgados e punidos, independente de terem ocorrido há décadas. A ação penal começou na Justiça Federal do Rio de Janeiro, com uma denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra militares acusados de participação no caso.

O grupo foi denunciado pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e quadrilha armada. A ação penal foi aberta e a defesa dos militares recorreu às instâncias superiores para encerrar o caso, sob o argumento de que deveria ser aplicada a Lei da Anistia.

Considerada constitucional pelo Supremo, a Lei da Anistia foi aprovada em 1980, durante o último ano do regime militar, e concedeu perdão a crimes políticos e delitos relacionados ocorridos durante a ditadura.

Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça suspendeu o andamento do processo. O recurso que chegou ao Supremo é contra esta determinação.

O Ministério Público Federal sustentou que os delitos em discussão na ação penal são crimes contra humanidade, já que cometidos por agentes estatais durante a ditadura militar. Por isso, são imprescritíveis. Esses crimes são aqueles que podem ser julgados e punidos a qualquer tempo, independentemente da data em que foram cometidos.

“No caso concreto, os violentos delitos praticados pelos agentes do Estado em face do ex-deputado Rubens Beyrodt Paiva, um opositor político do regime autoritário, subsomem-se a essa categoria de delitos de lesa-humanidade”, afirma o MPF no recurso.

O argumento dos procuradores é que “a específica circunstância dos crimes imputados terem sido cometidos pela força repressora do Estado ditatorial, de forma sistemática, contra a população civil insurgente ao regime opressor, com graves violações aos direitos humanos, confere-lhes magnitude que transcende o mero interesse social/nacional de reprimi-los, ofendendo a própria humanidade”.

Além disso, o MPF afirmou que o Brasil se comprometeu a seguir a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre os desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.

Na sentença sobre este caso, a Corte Interamericana fixou que é dever do país investigar e responsabilizar criminalmente autores de desaparecimentos e graves violações dos direitos humanos.

No recurso, os procuradores defende que esta determinação também é aplicável ao caso de Paiva. O caso ainda aguarda a manifestação da Procuradoria-geral da República.

No entanto, em outro processo relacionado ao tema, arquivado no último dia 9 de janeiro, a PGR afirmou que o assunto traz á discussão “recentes decisões proferidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e a possível distinção entre os crimes políticos abarcados pela Lei de Anistia (…) e os crimes de lesa humanidade, os quais não seriam protegidos pela legislação”.

“Ainda Estou Aqui”

A trajetória de Rubens Paiva é retratada no longa “Ainda Estou Aqui”, lançado em 2024 e dirigido por Walter Salles. O filme, estrelado por Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, e nesta semana foi indicado a três prêmios no Oscar: Melhor Atriz (Fernanda Torres), Melhor Filme Internacional e Melhor Filme do ano. É a primeira vez que uma produção brasileira falada em português vai disputar o troféu principal da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

O filme aborda a luta de Eunice Paiva, esposa de Rubens, que se tornou um símbolo da resistência ao exigir a verdade sobre o desaparecimento do marido. Fernanda Torres vive Eunice Paiva e Selton Mello tem o papel de Rubens.

Em 1971, agentes da repressão invadiram sua casa no Rio de Janeiro, detiveram Paiva e o levaram para prestar depoimento. Ele foi mantido em uma unidade do DOI-CODI, onde teria sido torturado e executado. Seu corpo nunca foi localizado.

Eunice Paiva liderou campanhas para esclarecer a morte do marido, resultando na criação de uma lei que reconhece como mortas as pessoas desaparecidas na ditadura militar. As informações são do portal de notícias g1.

 

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