Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de novembro de 2017
O presidente Michel Temer recebeu, fora da sua agenda oficial, o ex-presidente José Sarney para acertar a nomeação do novo diretor-geral da PF (Polícia Federal), Fernando Segóvia. Sarney chegou ao Palácio do Jaburu na tarde de sábado (04), após reuniões entre Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), e o marqueteiro Elsinho Mouco. Todos se falaram e, em seguida, Temer e o ex-presidente conversaram a sós.
O encontro aconteceu quatro dias antes de Temer oficializar a nomeação de Segóvia para o lugar de Leandro Daiello, que comandava a PF há quase sete anos, desde o governo Dilma Rousseff (PT). Ex-superintendente da Polícia Federal no Maranhão, Segóvia teve a sua indicação ao comando do órgão patrocinada por caciques do PMDB, entre eles Sarney e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
A escolha foi estratégica para o núcleo do governo, que desejava mudanças na condução das investigações da Operação Lava-Jato. Desde maio, com a delação de executivos da JBS, as apurações avançaram sobre o coração do Palácio do Planalto. O ministro Torquato Jardim (Justiça) não participou do processo de escolha e não compareceu ao Jaburu no fim de semana. Foi comunicado da decisão de Temer apenas na terça-feira (07), um dia antes de a indicação ser oficializada pelo presidente.
Aliados de Temer dizem que o encontro no fim de semana serviu para alinhavar a indicação de Segóvia ao posto e para o presidente comunicar alguns de seus aliados sobre a escolha. Sarney era investigado pela Lava-Jato por obstrução de Justiça, mas teve o inquérito arquivado pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A investigação – que também envolvia Jucá e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) – tinha como base áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro, o delator Sérgio Machado, em conversa com peemedebistas. Em um dos diálogos revelado em maio do ano passado, Jucá afirmava que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pelas investigações.
A pressão pela nomeação de Segóvia em detrimento de Rogério Galloro, número dois de Daiello e preferido de Torquato, contou ainda com o patrocínio do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes, também alvo de delação no âmbito da Lava-Jato.
Padilha disse, por meio de nota, que a indicação do diretor-geral da PF é atribuição “exclusiva” do ministro da Justiça e que não indicou “nenhum delegado para exercício de tal cargo”. Torquato, por sua vez, afirmou que não fez nenhuma indicação. Em nota, o Ministério da Justiça disse que “o presidente da República escolheu nomear o delegado Fernando Segóvia”.
Na quinta-feira (09), a nomeação de Segóvia foi publicada no Diário Oficial da União e ele já assumiu a função, apesar de sua posse estar marcada para o dia 20. O seu primeiro dia de trabalho foi dedicado a reuniões internas. São esperadas diversas mudanças no órgão. A primeira delas é na diretoria-executiva, a Direx, comandada por Galloro. Ele foi convidado por Torquato para ser o secretário nacional de Justiça, mas a indicação ainda necessita do aval de Temer, que não se manifestou sobre o tema.
Segóvia não é unanimidade dentro da PF. Ele tem apoio de cinco entidades que representam integrantes da corporação, mas a ADPF (Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal) não reconhece a legitimidade da lista tríplice que levou a seu nome. Além de Segóvia e Galloro, Luiz Pontel de Souza também era cotado para o posto.