Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de setembro de 2021
Continuava nesta terça-feira (28) a mobilização de equipes da prefeitura e moradores de Franca (SP) para limpar o rastro de sujeira espalhado pela cidade pela “tempestade de areia” que tomou conta do céu de parte do nordeste paulista, no domingo. A Sabesp, que administra o sistema de água no município, e a prefeitura reforçaram a orientação para a população evitar o uso de água nessa limpeza. Enfrentando a maior seca dos últimos 20 anos, os moradores de Franca passam por um racionamento em que ficam 36 horas com fornecimento de água e outras 36 horas sem.
Na segunda-feira (27), a prefeitura de Franca suspendeu a poda de árvores que faz rotineiramente e mobilizou as três equipes que executam esse serviço para retirar galhos espalhados pela cidade. Além dos diversos galhos, pelo menos duas árvores caíram. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Franca, Éder Silveira Brazão, essa retirada de galhos ainda deveria ser finalizada nesta terça-feira. “Uma terra vermelha misturada com fuligem das últimas queimadas. Logo em seguida, houve a chuva”, descreve o secretário sobre ocorrido na tarde de domingo.
Ele lembra que há algumas semanas houve queimadas de grande proporção na região e exemplifica com uma grande queimada que atingiu o município de Batatais, na região de Ribeirão Preto, no início do mês. “Nessa questão de queimadas foi um ano bem atípico, com um volume acima do normal”, pontua. Ele menciona que a rodovia Anhanguera e outras rodovias que cortam a região chegaram a ter o trânsito interrompido por causa das queimadas há algumas semanas.
Segundo a meteorologista Estael Sias, da MetSul, esse fenômeno é comum em países da Ásia, onde é conhecido como “haboob”. Ele é causado por temporais com ventos fortes que, em contato com o solo muito seco, encontram resquícios de queimada, poeira e vegetação, que acabam criando um “rolo compressor” de sujeira que pode chegar a até 10 quilômetros de altura.
Quando a “tempestade de areia” começou, Carlos Eduardo da Silva Ferreira, 30 anos, diretor de escola, ia deixar a casa dos pais, no Jardim Planalto 2, zona leste da Franca, e pegar a rodovia para Araraquara, onde mora. “Eram 16h30. Veio uma nuvem de terra. Em menos de meia hora, atingiu Franca toda e durou até aproximadamente 19h. Então, começou a chover”, relata. Por causa da falta de visibilidade, Carlos adiou a viagem e deixou Franca às 21h. Sua irmã, Ana Carla Ferreira, 25 anos, técnica de enfermagem, estava em um prédio, próximo da concha Acústica, no centro.
“Olhei para fora e falei ‘parece que vai chover’. Em menos de cinco minutos, escureceu; o dia pareceu noite. Veio uma nuvem de terra. A gente estava no sexto andar e não dava para enxergar os telhados das casas próximas. A praça ‘sumiu’”, relata. Ela critica a manutenção do racionamento de água. “A gente correu um pano por cima, mas os móveis e a garagem continuam sujos. Minha casa está suja e não teve como limpar. Sem água piorou”, diz.
Diante da pior seca das últimas duas décadas, um comitê foi criado para acompanhar a crise hídrica em Franca, envolvendo setores da prefeitura, do Estado, polícia ambiental e Sabesp. “A gente tem acompanhado diariamente a vazão do Rio Canoas”, informa Brazão. Ele explica que 90% da água captada em Franca vem desse rio, que este ano está com a vazão de 670 litros por segundo, enquanto a média para esse período é de 4.700 litros por segundo.
Há mais de dois meses, o comitê começou a realizar fiscalizações até no período da noite para impedir irrigação irregular. “Os irrigantes legalizados têm um monitoramento do volume que podem usar. Em alguns casos, a sugestão é que seja interrompida a produção”, relata o secretário. A principal cultura que demanda irrigação no município é a produção de café.
“A prefeitura tem proposto planos de revegetação da bacia do rio Canoas para aumentar o volume de água, para que o impacto seja pelo menos minimizado”, afirma o secretário. Ele menciona que a bacia do rio Canos enfrenta problemas como a exploração imobiliária irregular, que a prefeitura busca coibir.
Na segunda-feira, a Sabesp reforçou à população o pedido para que, mesmo diante da sujeira deixada pelo “evento atípico” do último domingo, mantivessem baixo o consumo de água. “As vazões dos mananciais de Franca apresentaram uma pequena melhora com a chuva ocorrida ontem (26) no município. Os reservatórios de distribuição da cidade, no entanto, permanecem com níveis baixos. A Companhia está avaliando a situação constantemente, analisando possíveis alterações no sistema de rodízio”, informou a Sabesp.
Conforme a secretaria de Meio Ambiente, no início do mês, o volume diário da vazão do Rio Canoas era de 80 mil metros cúbicos. No último sábado, após dez dias de queda constante, atingiu o pior registro do mês, aproximadamente 60 mil metros cúbicos.
A “tempestade de areia” atingiu outras cidades do nordeste paulista. Foram ventos de até 100 km/h e uma queda de 13ºC na temperatura em apenas 42 minutos. Em Ribeirão Preto, a prefeitura contabilizou a queda de mais de 30 árvores. Houve trabalho de retirada na segunda-feira e, segundo a prefeitura, continuou nesta terça-feira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.