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Tenente-Coronel Cid tentou vender relógio recebido em viagem oficial

Tenente-coronel espera nem sequer ser denunciado em troca de colaboração efetiva. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

Documentos enviados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos no Congresso mostram, de acordo com informações de parlamentares, que Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tentou vender um relógio da marca Rolex recebido em viagem oficial. O relógio foi dado ao então presidente em 30 de outubro de 2019 pelo rei da Arábia Saudita durante viagem da comitiva brasileira.

Os e-mails obtidos pela CPI foram revelados pelo jornal “O Globo” na manhã desta sexta-feira (4). Em 11 de novembro de 2019, o relógio Rolex foi protocolado no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do gabinete da Presidência da República como “acervo privado”. Nesse mesmo registro, consta uma liberação do relógio no dia 6 de junho de 2022.

Essa é a mesma data em que, de acordo com integrantes da CPI, o tenente-coronel Cid trocou e-mails em inglês para tratar de uma possível venda do relógio por US$ 60 mil (mais de R$ 291 mil).

As mensagens eletrônicas não deixam claro quem estava negociando com o então ajudante de ordens de Bolsonaro. Conforme o relatório, na época, Mauro Cid se correspondia com Maria Farani, que assessorava o Gabinete Adjunto de Informações do gabinete pessoal de Bolsonaro.

Maria foi desligada da Presidência da República em janeiro deste ano. Em um dos e-mails obtidos pela CPI, enviado por Maria Farani, a mensagem diz, em inglês (a tradução foi feita pela reportagem):

“Olá Mauro, obrigada pelo interesse em vender o seu Rolex. Tentei falar com você por telefone mas não consegui. Pode por favor me falar se você tem o certificado de garantia original do relógio?”
“Quanto você espera receber por essa peça? O mercado para Rolex usados está em baixa, especialmente para relógios cravejados de platina e diamante (já que o valor é tão alto). Só queria me certificar de que estamos na mesma linha antes de fazermos muita pesquisa. Espero ouvir notícias suas.”

Segundo os documentos obtidos pela CPI, Mauro Cid responde à mensagem de Maria Farani. Neste caso, o material da CPI não indica o cabeçalho da mensagem (com data e autor), somente o conteúdo:

“Olá …, Nós não temos o certificado do relógio, já que foi um presente recebido em viagem oficial de negócios. O que temos é o selo verde de certificado superlativo, que acompanha o relógio. Além disso, posso certificar que o relógio nunca foi usado. Pretendo receber por volta de $ 60.000 pela peça. Agradeço o retorno rápido. Mauro Cid.”

O que diz Maria Farani
Em nota divulgada após o tema do relógio se tornar público, Farani disse que, a pedido de Cid, pesquisou na internet sobre possíveis compradores. E que, em seguida, apenas reenviou os e-mails para Cid com as respostas.

Veja a íntegra da nota:

Com relação às informações divulgadas na imprensa acerca do relógio Rolex que o ex-assessor Mauro Cid teria tentado vender, esclareço que:

1. Exercia a função de secretariado executivo no Gabinete Pessoal da Presidência da República.

2. A pedido de Mauro Cid, por falar inglês, realizei uma pesquisa na internet para identificar possíveis compradores de relógio.

3. Apenas enviei os e-mails e, ao receber respostas, retransmiti ao endereço eletrônico de Mauro Cid.

4. Não tive conhecimento do desfecho de uma eventual negociação.

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