O ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira tentou, por meio de seus advogados, em quatro oportunidades, fechar uma delação premiada com autoridades americanas no processo conhecido como “escândalo da Fifa”. O acordo não foi celebrado porque o Ministério Público americano exigiu que Teixeira ficasse preso em regime fechado durante um período.
Nos Estados Unidos, ao fechar o acordo, o MP pede a redução da pena ou mesmo uma não pena de prisão. O juiz decide o quanto reduz sem fugir muito dos parâmetros existentes. Além do FBI (a polícia federal dos Estados Unidos), o ex-dirigente é alvo da Justiça na França, Andorra, Brasil, Suíça e Espanha.
Com a palavra
O advogado de Ricardo Teixeira no Brasil Michel Assef Filho nega que ele tenha negociado delação premiada nos Estados Unidos e qualquer ilegalidade. A Coluna não localizou a defesa do ex-dirigente nos EUA.
O caso. Em solo americano, a investigação contra Teixeira envolve contrato que ele assinou com a Nike, além de propinas que teria recebido em troca de direitos de transmissão para torneios nacionais.
Propinas
Em 2016, o FBI enviou uma nota à PF (Polícia Federal) brasileira alertando que Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, havia viajado em um jato privado da CBF para um paraíso fiscal no Caribe. Na lista de convidados no voo, porém, aparecia o nome de outro brasileiro, desconhecido das autoridades: Murilo Ramos. Agora, com a cooperação da França, os norte-americanos descobriram que Ramos era, de fato, um dos representantes do banco Pasche, usado por Teixeira em Mônaco e instituição suspeita de ter sido usada para receber propinas do Catar para a Copa do Mundo de 2022.
Murilo Ramos atuava no Rio de Janeiro em uma espécie de representação do banco de Mônaco. Ele garantiu que jamais entrou no voo citado pelo FBI. Mas o caso revela o papel da cooperação internacional no cerco que está sendo feito a Ricardo Teixeira.
Atualmente, o ex-dirigente está na mira da Justiça francesa, do FBI, de Andorra, do Brasil, da Suíça e da Espanha. Em cada uma das jurisdições é alvo de inquéritos sobre diferentes aspectos de sua gestão na CBF. Mas, segundo investigadores, as operações identificadas mostram ampla sofisticação e o quebra-cabeça começa a se compor graças à cooperação entre diferentes países.
Na Espanha, Ricardo Teixeira é suspeito de ter montado uma organização criminosa para desviar recursos dos amistosos da seleção brasileira. O esquema foi descoberto depois que passou a contar com a cooperação do Ministério Público de Andorra, que obrigou os bancos locais a apresentar os dados sobre as transações do brasileiro. Agora esse processo será transferido ao Brasil para que Teixeira possa eventualmente ser processado no País.
Nos Estados Unidos está sob análise o contrato que ele assinou com a Nike, além de propinas que teria recebido em troca de direitos de transmissão para torneios nacionais. O inquérito, nesse caso, tem a colaboração da Suíça, onde pelo menos três contas bancárias ligadas a ele foram descobertas.
A suspeita é de que Ricardo Teixeira seja o elo entre o Catar e o pagamento de propinas entre dirigentes, em 2010, com transferências a partir de Mônaco direcionadas a Nicolás Leoz, Jack Warner e Mohamed Bin Hammam, todos ex-cartolas da Fifa banidos do futebol. Esses dados, por sua vez, estariam com a Justiça francesa, que colabora com o FBI e a Justiça brasileira para fechar o cerco.