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Teor dos novos arquivos sobre a morte de John Kennedy com 3 mil documentos decepciona historiadores

O presidente dos EUA John F. Kennedy em 22 de novembro de 1963, pouco antes de ser assassinado. (Foto: Reprodução)

Historiadores americanos passaram as últimas 24 horas tentando decifrar quase 3.000 documentos das investigações do assassinato do presidente John Kennedy (1917-63) que acabam de vir a público. Mas não viram nada ali que pudesse mesmo tirar o sono.

Dos papéis recém-divulgados, só 52 nunca tinham sido vistos – a maioria é quase ilegível e está fora de contexto, o que confunde mais do que ajuda a esclarecer dúvidas que pairam sobre um dos episódios mais traumáticos da história dos Estados Unidos.

“Devo dizer que minhas expectativas não eram muito grandes, mas a minha decepção é maior do que eu esperava”, disse Gerald Posner, um dos maiores especialistas na morte de Kennedy.

“A maioria dos dados é notícia velha reciclada como notícia nova. Não há nada de substância sobre o assassinato.”

Donald Trump passou a semana atiçando seus seguidores no Twitter, prometendo grandes revelações sobre os acontecimentos de 22 de novembro de 1963, quando o jovem Kennedy foi alvejado na cabeça durante uma carreata em Dallas pelos disparos de Lee Harvey Oswald, morrendo em seguida nos braços da primeira-dama, Jackie.

Mas Trump acabou retendo uma parte dos papéis, seguindo orientações de agências de inteligência, no que gerou ainda mais curiosidade sobre o que podem revelar os documentos mantidos em sigilo. “Não esperava que isso fosse acontecer”, diz Posner. “Mas mostra como o FBI e a CIA, que Trump gosta de chamar de Estado profundo, foram mais hábeis que ele no jogo que ele gosta de jogar. Ele poderia ter liberado tudo, mas se houvesse uma revelação perigosa, isso passaria a assombrar sua Presidência.”

Entre os dados que dominaram discussões nos canais de notícias, no entanto, está um memorando assinado por J. Edgar Hoover, então diretor do FBI, que se dizia preocupado com o fato de que a morte de Lee Harvey Oswald, o assassino de Kennedy morto dois dias depois do atentado, fosse turbinar teorias da conspiração. No documento, Hoover diz que era preciso “convencer o público de que Oswald é o assassino verdadeiro”.

Ele se preocupava em provar que Oswald agira sozinho, sem apoio da máfia, de cubanos ou de soviéticos, no assassinato do presidente, mas o fato de ele ter morrido antes de ir a julgamento complicava ainda mais o trabalho do FBI. Outra mensagem de Hoover, enviada três anos depois da morte de Kennedy, falava sobre a suspeita da KGB, a polícia secreta soviética, de que Lyndon Johnson, então vice-presidente, pudesse ser o mandante do assassinato. Mas, no material recém-divulgado, não há quase nada sobre a viagem de Oswald à Cidade do México, onde ele visitou a embaixada cubana. Os detalhes de sua passagem pelo país vizinho, na visão de historiadores, poderiam esclarecer algumas dúvidas. “Essa é a maior de todas as decepções”, diz Posner. “Não há nada sobre esse episódio.”

Outro historiador que vem se debruçando sobre os papéis, Larry Sabato, da Universidade da Virgínia, destacou documentos que provam que o México auxiliou os EUA nas investigações, tendo grampeado as embaixadas da União Soviética e de Cuba, e que Oswald teria dinheiro numa conta bancária naquele país. Sabato, que comparou a investigação dos documentos a montar um “quebra-cabeça de milhões de peças”, lembrou ainda uma informação do serviço secreto britânico revelando que 20 minutos antes da morte de Kennedy um jornal em Cambridge, no Reino Unido, fora alertado que em breve haveria “grandes notícias” vindas da América.

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