Até divulgação das imagens do calmo passeio do general Gonçalves Dias no interior do palácio do Planalto, em pleno 8 de janeiro, tudo parecia caminhar para o arquivamento precoce de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito-CPMI , estimulada fortemente pela oposição e pelo bolsonarismo, mas obstruída pelo governo, que não a desejava.
CPI, diziam os governistas, a gente sabe como começa mas não sabe como termina. No mínimo as atenções do país se voltariam para a pretendida CPMI, ocupando o tempo e sugando as energias do governo.
O bolsonarismo, chafurdando no campo de sua natureza e predileção, fazendo o velho jogo da mentira e propondo a seu lance mais ousado, pretendia demonstrar no mais alto estilo que os eventos de 8 de janeiro de 2023 não somente não eram uma tentativa de golpe da direita, mas uma armação da esquerda, de Lula e do PT.
Olhando de perto e com cuidado, com raciocínio leve e superficial, trata-se de uma versão doidivanas, surreal, excêntrica: teoria conspiratória no estado da arte.
Basta pensar um pouco: O governo Lula recém-instalado, em tempo recorde de oito dias, sem deixar pistas, reuniu seis ou sete mil “patriotas”, trouxe-os dos mais distantes rincões brasileiros, montou uma logística vertiginosa, vestiu-os de verde e amarelo (o uniforme oficial do bolsonarismo) e foram à luta, invadindo prédios e vandalizando as sedes dos três poderes da República em Brasília.
Tudo para o fim de inculpá-las, elas, as inocentes crias acampadas do bolsonarismo. Tudo para o fim de botar de cabeça para baixo a narrativa golpista. A Rússia querendo demonstrar que não foi ela a invadir a Ucrânia, mas o inverso. Os nazistas incendiando o Reichstag (o Parlamento alemão) em 1933 e botando a culpa nos comunistas.
E o Supremo Tribunal Federal, a Câmara dos Deputados, o Senado também teriam participado dos atos de delinquência contra a democracia e a República? A pergunta é do ministro da Justiça Flávio Dino. Mas quem se importa com os detalhes? Como se sabe, quando maior a mentira mais tolos se ocuparão de disseminá-la.
O fato é que tudo agora aponta para a instalação da CPMI. Será o palco de sempre, o ambiente propício para todas as patranhas e baixarias, mas não tem jeito. Salve-se quem puder e seja o que Deus quiser.
O ministro do STF Alexandre Moraes, neste 100 dias, deve ter escondido nos porões do Supremo os infiltrados da esquerda que participaram da farsa, pois até este exato momento não apareceu nenhum deles.
No placar final deve prevalecer o que é assente na opinião geral – intentona golpista – , à exceção, é claro, desses seres que abundam nos becos escuros, que deformam, deturpam, e mentem desbragadamente, sem que o mais leve rubor lhes suba à face.
Gente como essa deputada, catarinense e bolsonarista exaltada, Júlia Zanatta (PL), que se deixa fotografar de metralhadora em punho, e, ilustrando a foto, uma mão de 4 dedos com três furos de bala. E que diante do risco de uma ação penal, para tirar o dela da reta, quase chega a dizer que nem sabia que Lula tem somente quatro dedos em uma das mãos.