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Política Teremos relação com direita e esquerda, diz chanceler de Lula: “Não nos preocupamos com ideologia”

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(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Em sua primeira entrevista exclusiva desde que foi anunciado para o comando do Itamaraty pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o veterano embaixador Mauro Vieira prometeu que o Brasil vai “voltar a todo mundo”, retomando o diálogo com todas as nações, independentemente do posicionamento político ou ideológico dos seus governos.

A promessa marca uma mudança em relação à política externa do governo de Jair Bolsonaro, que seguiu uma política de alinhamento incondicional com os Estados Unidos de Donald Trump, deu preferência a parcerias com países governados pela direita, como Hungria e Polônia, e travou embates com governos de esquerda e centro-esquerda na América do Sul, como o do argentino Alberto Fernández, peronista.

“Não nos preocupamos com a ideologia. A ideologia é a integração”, disse Vieira sobre a relação com os países vizinhos.

O diplomata de 71 anos, que já foi chanceler no segundo governo de Dilma Rousseff e embaixador em Washington e Buenos Aires, acredita que a relação com os Estados Unidos entrará em uma “nova era” e que será possível destravar acordos comerciais como o firmado com a União Europeia.

Ele também indicou que, mantendo uma política seguida sob Bolsonaro, o Brasil não vai aderir às sanções contra a Rússia adotadas pelos EUA e a União Europeia por causa da invasão da Ucrânia.

“Nós não adotamos sanções que não forem aprovadas pelo Conselho de Segurança. Senão são ilegais. Não adotamos nenhuma.”

Apesar de afirmar que não haverá uma “caça às bruxas” no Itamaraty, Vieira – que no atual governo foi alocado na Croácia, um posto considerado de segunda linha – prevê mudanças:

“Posições importantes ocupadas por pessoas que têm uma posição diferente têm de mudar, se adaptar às realidades. Inclusive por questão de foro íntimo, quem pensar de um jeito ter que agir de outro jeito, acho que essas mesmas pessoas vão pedir para sair.”

A seguir, leia trechos da entrevista:

1) O governo Lula foi marcado por iniciativas como a criação do Brics e do G20 comercial. Qual pode ser a marca da política externa do próximo mandato de Lula?

Do ponto de vista da política externa brasileira, a grande marca vai ser continuar com as políticas de integração sul-americana, de aproximação, é um preceito constitucional, inclusive. Vamos continuar e aprofundar. Da mesma forma que a aproximação com a América Latina como um todo. As relações com os blocos e países desenvolvidos, os grandes parceiros do Brasil, Estados Unidos, União Europeia e China. Na área multilateral, vamos reforçar o multilateralismo, que também é uma marca patente da política externa brasileira, e recuperar a imagem do Brasil, trazer o Brasil de volta aos grandes foros internacionais. O Brasil se ausentou muito nestes últimos anos, então precisamos trazer de volta e ter uma posição mais ativa, de forma que o Brasil tenha uma voz escutada e desejada. Existe uma sede de ver o Brasil de novo atuando.

2) O governo Bolsonaro foi muito questionado por não ter criticado veementemente a postura russa na invasão da Ucrânia, o que de certa forma coincide com a visão do presidente eleito. Isso vai mudar?

O Brasil criticou e condenou a invasão, a conquista territorial. Isso [a invasão] evidentemente é contrário à carta da ONU, foi condenado e será. A Constituição diz que nós temos que valorizar e procurar uma solução pacífica para os conflitos, e vi o presidente Lula dizer que, chegando o momento, é preciso sentar, conversar e buscar uma solução pacífica negociada. É o que vai ser feito, o que vai acontecer.

3) O Brasil poderia adotar sanções contra a Rússia?

Não, nós não adotamos sanções que não forem aprovadas pelo Conselho de Segurança. Senão são ilegais. Não adotamos nenhuma.

4) Numa eventual negociação, o Brasil defenderia que a Rússia devolva à Ucrânia os territórios anexados recentemente?

Não se pode partir de nenhum princípio pré-estabelecido. Ou dizer, só sento [para negociar] se for assim. O que o Brasil pode fazer, pode juntar sua voz à de outros países, é estimular uma negociação. Tem que sentar e conversar. O presidente Lula é especialista na arte da negociação, de conversar.

5) O Brasil hoje não fala com Nicarágua, Cuba, Venezuela. A diplomacia brasileira voltará a conversar com todo mundo?

O Brasil volta a todo mundo. Somos um país presente no mundo todo, que tem relações diplomáticas com todos os países da ONU, um dos pouquíssimos que tem relações com todos os países. Achamos que se deve justamente escutar e ouvir, a diversidade tem de ser aceita. Vamos reativar as relações diplomáticas com Venezuela, vamos normalizar as relações com Cuba e mantemos relações com a Nicarágua e com outros países centro-americanos e caribenhos.

6) O Itamaraty com Bolsonaro foi marcado por críticas, ideologização interna, como pacificar e voltar à normalidade?

O Itamaraty é uma instituição de Estado, com carreira de Estado. Os funcionários todos devem sempre se comportar dentro desses parâmetros. É evidente que cada um pode ter posições e preferências políticas, mas tem que atuar de uma forma republicana. Isso é uma obrigação, e assim espero que seja.

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