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Por Redação O Sul | 31 de julho de 2016
O nariz e os olhos podem servir de janelas para o diagnóstico precoce do mal de Alzheimer. As indicações são de diversos estudos apresentados na Conferência Internacional da Associação do Alzheimer, maior reunião científica sobre o assunto, realizada em Toronto, no Canadá.
Pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Colúmbia (EUA), compararam, na conferência, a capacidade do Upsit (Teste de Identificação de Odores da Universidade da Pensilvânia, na sigla em inglês), criado nos anos 1980, com outros métodos mais caros e invasivos na previsão do desenvolvimento de demências.
O Upsit consiste em quatro cartelas com dez cheiros familiares cada. A identificação correta de cada odor é ponderada por uma tabela com os resultados de 4 mil pessoas normais para medir o nível de acuidade olfativa dos participantes. Ao todo, mais de 500 mil pessoas já realizaram o teste apenas nos Estados Unidos desde a sua criação, onde está disponível para autoaplicação. Também há versões em outras culturas, inclusive uma luso-brasileira, conhecida como Upsit-Br2.
O Upsit foi administrado em 397 idosos com idade média de 80 anos, todos considerados saudáveis então. Estes idosos também foram submetidos a exames de ressonância magnética para medir a espessura do chamado córtex entorrinal, primeira área do cérebro afetada pela doença. Os pesquisadores acompanharam o grupo durante quatro anos, período no qual 50 (12,6%) desenvolveram demência, dos quais 49 foram diagnosticados com Alzheimer. Além disso, 79 dos idosos, ou quase 20%, apresentaram algum nível de declínio cognitivo. Segundo os pesquisadores, tanto um baixo desempenho no Upsit e, em um menor grau, a espessura do córtex entorrinal foram associados à transição para a demência e o Alzheimer. O baixo desempenho no teste de identificação de odores, mas não a espessura do córtex entorrinal, também previu o declínio cognitivo dos participantes no estudo.
“Estes achados apoiam a identificação de odores como um previsor precoce [do Alzheimer] e sugerem que problemas na identificação de odores podem preceder o afinamento do córtex entorrinal nos estágios clínicos iniciais do mal de Alzheimer”, defendeu Seonjoo Lee, professor de bioestatística clínica em psiquiatria na Universidade de Colúmbia.
Avaliação dos olhos.
Outros dois estudos relacionaram peculiaridades observáveis nos olhos com indicadores do desenvolvimento de demências. No primeiro deles, os cientistas associaram a espessura dos tecidos nervosos atrás da retina com a perda das funções cognitivas. Para isso, eles analisaram os resultados de um tipo de tomografia que mediu a chamada RNFL (camada de fibra nervosa retinal, também na sigla em inglês), exames físicos, testes cognitivos e respostas de questionário de mais de 33 mil pessoas, descobrindo que os que tinham este tecido mais fino também tiveram um desempenho pior nas avaliações cognitivas.
“Isto demonstra a potencial utilidade dos olhos como uma medida não invasiva da perda neuronal que está ligada ao desempenho cognitivo, e fornece um possível novo biomarcador para os estudos sobre a neurodegeneração”, considera Fang Ko, pesquisador do Instituto de Oftalmologia da UCL (University College London), na Inglaterra.
Já no segundo estudo, Melanie Campbell, da Universidade de Waterloo, no Canadá, e colegas examinaram os olhos de 20 humanos mortos diagnosticados com Alzheimer e seis cães com um modelo animal da doença, com microscópios de polarização, e os compararam com as retinas de 22 humanos e sete cachorros também falecidos, mas sem sinais de demências, demonstrando que tecnologias de imageamento ocular podem detectar a presença da proteína amiloide nesta região do corpo. “O imageamento polarizado é uma promissora forma não invasiva de revelar os depósitos retinais de amiloide como biomarcadores do Alzheimer”, sustentou Melanie. (AG)