Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 27 de junho de 2018
O eletricista Lietides Pereira Vieira disse em depoimento ao juiz Sérgio Moro, no dia 20 de junho, que a mulher dele, a cozinheira Rosilene da Luz Ferreira, não concordou em ir para o sítio em Atibaia (SP) para depor.
Ele também argumentou que o filho, de oito anos, que foi levado junto, adoeceu e precisou de tratamento psicológico porque ficou muito tenso.
Lietides foi ouvido na condição de testemunha de Fernando Bittar no processo que apura a propriedade do sítio. Nesta ação, a força-tarefa da Lava-Jato acusa Lula de receber propina proveniente de seis contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht e a OAS. Os valores foram repassados ao ex-presidente em reformas realizadas no sítio, segundo os procuradores.
Lula nega as acusações e diz não ser o dono do imóvel. Além do ex-presidente e de Fernando Bittar, outras 11 pessoas são rés no processo.
Após ser questionado pelos advogados de Fernando Bittar se Rosilene concordou em depor no sítio, Lietides respondeu: “Não é bem que ela concordou, né. Eles levaram ela. A senhora vai ter que ir lá para depor para fazer alguns esclarecimentos”.
O depoimento de Rosilene foi colhido no dia 4 de março de 2016, mesmo dia em que foi deflagrada a 24ª fase da Lava-Jato e que o ex-presidente Lula foi alvo de um mandado de condução coercitiva.
Lietides foi ouvido na condição de testemunha de Fernando Bittar no processo que apura a propriedade do sítio. O eletricista disse ainda, segundo o MPF, que houve coação por parte das autoridades ao levar a esposa dele da casa dela para depor no sítio.
“Meu filho faz tratamento psicológico com a pediatra e psicológica até hoje, porque ele ficou muito tenso. Ele ficou muito com medinho, meu filho adoeceu. Meu filho ficou uns oito dias em que ele dormia comigo atracado no meu pescoço, com medo”, relatou o eletricista.
Lietides Vieira e a mulher trabalharam no sítio, ela era cozinheira. O marido disse ainda que a mulher prestou depoimento por cerca de uma hora até ser conduzida novamente para casa. “Ela me contou que eles falaram: ‘a senhora vai ter que ir lá depor, prestar alguns esclarecimentos”.
Procuradores dizem que não houve coação ou condução coercitiva
Após o depoimento do marido, o juiz federal determinou que o MPF (Ministério Público Federal) se manifestasse. O parecer foi publicado no sistema da Justiça Federal do Paraná na noite desta terça-feira (26).
“Conclusivamente, ao contrário do que afirmado por Lietides Pereira Vieira, não houve nenhuma coação ou condução coercitiva da testemunha Rosilene da Luz Ferreira, e de seu filho, tendo o procedimento se pautado pelas normas legais, conforme acima narrado”, disseram os procuradores.
O MPF afirmou que Rosilene se dispôs a ir ao sitío de Santa Bárbara para falar com a força-tarefa. Isso porque, conforme o MPF, o equipamento para a gravação do áudio do depoimento estava com pouca bateria, inviabilizando a tomada do depoimento na casa de Rosilene.
Conforme os procuradores, então foi proposto que o depoimento fosse tomado à tarde na própria residência da testemunha. Segundo eles, a cozinheira ponderou que nesse horário trabalharia em outro local e que, para ela própria, seria melhor que o depoimento fosse realizado ainda pela parte da manhã.
“Como a equipe comandada pelo Delegado Mauat e encarregada da tomada dos depoimentos somente encerraria os trabalhos no sítio após o meio dia, a testemunha se dispôs a comparecer na base operacional da PF no sítio Santa Barbara para formalizar e prestar depoimento ainda pela manhã, desde que pudesse se deslocar na viatura da Polícia Federal até o local onde seria colhido o depoimento e nela ser trazida de volta a sua residência a tempo de não se atrasar para o trabalho”, diz trecho da manifestação dos procuradores entregue à Justiça.
Quanto à presença do filho de Rosilene no sítio, os procuradores disseram que foi uma decisão dela mesma, sem nenhuma ingerência do Ministério Público ou dos policiais de apoio. “Ele – o menor – poderia ter permanecido junto com o esposo ou companheiro, por decisão exclusiva de seus genitores”, disse o MPF.