Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 2 de agosto de 2021
Vocalista do Detonautas fala sobre posicionamento político, explica novo disco com críticas ao governo
Foto: Daltinho Medeiros/DivulgaçãoPosicionamento político é algo que Tico Santa Cruz faz há anos, desde que tornou-se uma pessoa pública com o sucesso da banda Detonautas Roque Clube, no final da década de 90. O músico, que diz ter sofrido retaliações com prejuízos financeiros e mentais por sua postura mais crítica em relação à política e questões sociais, afirma que se sente mais acolhido do que nunca no momento atual, no qual artistas têm sido pressionados à emitir escolhas, opiniões e lados.
“Eu queria ser jornalista e comentarista político. Cursei até Ciências Sociais na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 1997. Não concluí o curso, mas continuei estudando e lendo muito sobre o tema. Com a internet, acabei, de certa forma, me tornando o que queria ser. A internet foi me jogando para esse caminho”, conta ele, que conhece o termo “cancelamento” desde 2012.
“Vivemos uma democracia parcial. Sofremos muitas retaliações por conta dos posicionamentos políticos. Sofro ataques – inclusive no próprio meio artístico – desde 2012. Por causa do gabinete do ódio e dessa dinâmica de se criar fake news, tive inúmeros prejuízos financeiros e mental. As pessoas tinham medo de ter o Detonautas em festivais por causa das letras e do posicionamento combativo. De 2018 para frente, tenho sentido uma diferença. Hoje em dia se cobra um posicionamento dos artistas e como a gente já faz isso há anos, temos uma bagagem maior e temos recebido mais apoio. Sinto até que os ataques de ódio pela rede social diminuíram. Cada vez menos as pessoas se propõem a defender esse governo, que é vergonhoso. E os robôs estão direcionando para outras pessoas os ataques de ódio.”
Tico, que está escrevendo um livro sobre as retaliações que sua banda enfrentou ao se posicionar politicamente, diz que após muita terapia também tem mudado o modo de lutar e defender as causas e questões que acredita.
“A gente trata a saúde mental para conseguir lidar com os sentimentos. A minha personalidade é combativa. Quanto mais me atacam, mais vou para cima. Isso, de certa forma, foi uma blindagem que criei. Nunca me intimidei. Cresci em um ambiente de conflito, que é um ambiente normal para mim. Trabalho na terapia as brigas que valem a pena brigar. Por minha essência, entraria em todas as brigas, mas na pandemia tive esse crescimento pessoal”, garante.