As gigantes dos encontros on-line estão em uma corrida para criar “parceiros de paquera” alimentados por inteligência artificial (IA) que sejam capazes de orientar usuários da geração Z frustrados com esses aplicativos a criar cantadas melhores e iniciar romances.
Tinder, Hinge, Bumble e Grindr informam que estão construindo ou testando ferramentas de IA e chatbots assistentes para fazerem quase tudo na paquera on-line, desde gerar frases iniciais para quebrar o gelo até elaborar perfis individuais, incluindo feedbacks aos usuários sobre sua forma de flertar.
“A IA vai ajudar as pessoas a fazer melhores conexões”, diz A. J. Balance, diretor de produtos da Grindr. “É aquele amigo de bar que te ajuda a chamar alguém para sair — mas no contexto virtual.”
Essa reorientação das empresas para tentar oferecer conselhos e dicas sobre relacionamentos alimentados por IA ocorre em meio à “fadiga” com os aplicativos de namoro, em particular entre os usuários mais jovens, que continua a impactar as plataformas on-line de encontros. As empresas de namoro on-line apostam que o feedback e os conselhos personalizados dos chatbots de IA reconquistarão usuários decepcionados e os trarão de volta a seus produtos.
De acordo com Balance, o assistente chatbot da Grindr, chamado Grindr Wingman, contribuiria para a evitar esse cansaço ao ajudar os usuários a superar os “maiores pontos problemáticos” dos encontros on-line, o que inclui gerar sugestões de conversa com base nos perfis individuais dos usuários e no histórico de bate-papo.
Ele acrescentou que a IA poderia, em última análise, eliminar a parte árdua dos encontros on-line: “A ideia de um ajudante de paquera falar com outro, talvez para ver como seria sair num encontro ou para encontrar áreas de interesse comum, é algo que vale a pena explorar”.
O Tinder, o produto que primeiro popularizou a ação de selecionar os perfis de possíveis pretendentes deslizando-os com o dedo para a esquerda ou a direita, também informou que pretende usar a IA “para ajudar os usuários ao longo de toda a jornada de namoro” dentro dos “próximos 12 meses”.
A empresa já começou a usar, de forma limitada, uma ferramenta de IA para a construção de perfis, que foi idealizada para aliviar “o peso da seleção de fotos” e é capaz de analisar as fotos pessoais de um usuário e selecionar as melhores. O Bumble também informou que está desenvolvendo um recurso semelhante.
As iniciativas surgem em meio às dificuldades dos aplicativos de encontros on-line em atrair novos usuários. Em agosto, as ações do Bumble – que é dono do aplicativo homônimo de namoro com foco nas mulheres, avaliado em US$ 830 milhões –, do Badoo e do Fruitz, caíram mais de 25% depois de a empresa ter reduzido suas projeções de receita e reconhecido que a recente reformulação da marca ainda não trouxe uma retomada do crescimento no número de usuários.
Por sua vez, o Match Group, gigante de US$ 9,6 bilhões do setor de encontros, está sob pressão de investidores para promover uma reviravolta em seu maior produto, o Tinder, que chegou ao sétimo trimestre consecutivo de queda no número de assinantes pagantes, pelos dados disponíveis, de abril a junho.
Em março, uma pesquisa da OnePoll revelou que mais de 75% dos usuários de aplicativos de namoro sentiram sinais de fadiga com esses produtos, 40% deles relatando repetidos fracassos em encontrar um par adequado.
O Hinge, outro grande produto do Match Group além do Tinder, informou que também busca como “objetivo final” fazer os usuários sentirem “como se tivessem um casamenteiro pessoal (guiado por IA) dentro do aplicativo”.
O aplicativo especializado em relacionamentos, que continuou a crescer em meio à recente desaceleração do Tinder e do Bumble, foi o primeiro produto popular de namoro a colocar orientações para os usuários completarem em seus perfis, como “O modo de me conquistar é…” ou “Minha maior tolice é…”.
De acordo com Balance, o Grindr está contratando especialistas em relacionamentos e saúde sexual para garantir que seu chatbot assistente forneça conselhos úteis aos usuários, enquanto a executiva-chefe do Bumble, Lidiane Jones, disse que o “suporte a conversas” da IA de sua empresa ajudaria os “clientes a ganhar confiança para serem suas melhores versões”
Alguns especialistas mostram ceticismo. “O objetivo final de tudo isso é fazer com o que o amor passe a ser uma atividade eficiente de emparelhar pessoas, em vez de uma jogada imprevisível do destino”, diz Carolina Bandinelli, pesquisadora da Universidade de Warwick. “E não acho que isso seja possível.”