Sete integrantes originais dos Titãs anunciaram que vão retornar aos palcos juntos. Em uma coletiva de imprensa, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Charles Gavin e Paulo Miklos receberam representantes de fãs-clubes e alguns jornalistas para falar sobre o projeto.
Será a primeira vez em 30 anos que os Titãs farão um projeto de revival. A temporada será realizada entre abril e junho de 2023 e terá como lema a frase “todos ao mesmo tempo agora”, que faz referência ao nome do sexto álbum da banda, lançado em 1991, Tudo ao Mesmo Tempo Agora. O guitarrista e produtor Liminha será integrante da banda durante os shows e a filha do ex-integrante Marcelo Fromer, morto em 2001, a cantora Alice Fromer, também foi convidada para representar o pai.
Idealizada pela empresa 30E e pela Bonus Track Entretenimento, a turnê vai começar no Rio de Janeiro, dia 28 de abril, e terminar em São Paulo (passando também por Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Brasília e Curitiba). A pré-venda dos ingressos para todas as datas começou nesta quinta (17), e as vendas normais terão início ao meio-dia da próxima terça (22).
Bajulação
A coletiva de imprensa foi conduzida pela ex-apresentadora da MTV, Sarah Oliveira. Ela fazia perguntas sempre simpáticas, elevando o encontro no mínimo a um “acontecimento histórico”, entre outras colocações e memórias afetivas. Já os jornalistas que quisessem participar com alguma questão, mesmo estando sentados à frente da banda, deviam enviar perguntas pelo celular acessando um ambiente por QR Code. E aqui começam as diferenças do mundo de quando os Titãs surgiram para este, 40 anos depois.
Alguém fez essa pergunta, “qual a diferença que sentiam 40 anos depois”, e o baterista Charles Gavin foi quem respondeu, lembrando que o grupo, criado em 1982, chegou a pegar o tempo da censura. “Já podíamos falar das coisas de uma forma mais aberta do que os nossos mestres, que tinham de usar ferramentas (nas letras) para driblarem a censura.”
Mestres
Uma das perguntas lidas por Sarah, enviada por uma publicação especializada em música, trazia esse assunto com tintas tão carregadas de bajulação que causou constrangimento à própria banda. “Vocês disseram que contaram com grandes professores. Como é saber que, 40 anos depois, vocês assumiram o lugar dos professores?”
Alguém do grupo disse que não se sentia com cara de professor, alguns riram, mas coube a Nando Reis cortar a levantada: “Eu também aprendi com os Titãs”. Ele se mostrava um dos mais animados. Um pouco antes, havia dito o seguinte, quando a bola erguida era outra: “Quando comentei isso (sobre o retorno do grupo) com meus filhos, eles enlouqueceram. A produção de todos que estão aqui a meu lado sempre foi de altíssimo nível. Então assim, nós somos f…”.
Momento delicado
Os Titãs lançaram há um mês o álbum Olho Furta-Cor, um dos menos assertivos de sua carreira, produzido por Rick Bonadio e Sergio Fouad. Com Branco Mello ainda tratando um câncer, restando de tantos integrantes apenas Sérgio Britto e Tony Bellotto, o 17º disco do grupo parece sentir, mais do que os outros projetos, o baque de tantas baixas.
Mas a pauta ali parecia orientada a não destoar do clima afetuoso de reencontro, algo que acaba destoando da essência combativa e de pensamentos necessários do próprio grupo, que lançou Cabeça Dinossauro, em 1986, com músicas como Polícia, Estado Violência, Bichos Escrotos e Igreja.
O controle das perguntas e o excesso de elogios impossibilitavam algum aprofundamento sobre a carreira de um dos grupos mais importantes do rock brasileiro. Muito raro ter à frente todos juntos, mas o que sobrou foi isso – Arnaldo Antunes: “A gente vai se divertir. Temos mais anos de amizade do que de banda. Eu fiquei dez anos no grupo, mas sempre que nos reencontramos é algo regado a muita risada”. Paulo Miklos: “É muito bacana poder falar de novo no coletivo. O bom senso sempre norteou tudo o que fizemos”. Charles Gavin: “É bem verdade que nós todos tivemos uma formação musical extraordinária”.
O grupo tem sido desidratado desde 1992, com a saída de Arnaldo Antunes. Ainda assim, ele consegue manter uma boa agenda de shows e de lançamentos de discos. Agora, para além dos ganhos para o retorno, o grupo tem a chance de medir a temperatura de algo que vale também para quem deixou o coletivo há anos. Qual a força de um grupo junto às duas gerações de ouvidos digitais que nunca viram um show com todos esses integrantes lado a lado? O quanto os Titãs juntos podem ser ainda tão ou mais fortes do que as carreiras de alguns de seus integrantes separados? E quais canções e amizades, de fato, conseguem resistir a 40 anos?