Viver é uma das tarefas simultaneamente mais complicadas e mais simples. Ecco, homem de pensamento respeitado, nos faz, com a densidade profunda de sua inteligência, uma averiguação exata sem meneios e muito menos sem números (que hoje comandam a tudo e a todos). Sem estatísticas, (arte e ciência) que sem “ler a mão ou jogar as cartas do baralho com o segredo da matemática”, se dizem capaz de desenhar possíveis ocorrências de futuro.
O que me sensibiliza na literatura (parece-me até ser mais que isso) do pensador italiano é sua arte e suas ideias e ideais – quase como um político idôneo deveria ser – recordando porquês de ontem (que entendo valiosos e até verdadeiramente determinantes) para agora e o depois.
Neste momento, agudizado do matar ou morrer que graças as armas mais modernas e mais assassinas de uma região em que, como já disse Einstein, nasceu com a ideia radical do monoteísmo, para muitos, e de suas derivações ou precedências para outros tantos. Com o estandarte das religiões não coincidentes, mas afirmativas do poder mais de Deus, que é início, mas que em seu nome e o fazendo firmemente em função da visão que tem os que nele acreditam e os quais são múltiplos e divergentes, o que os faz simultaneamente maioria e minorias.
E praticamente todos, há dois mil anos (se as recordações cinzeladas nas paredes das cavernas são mais vivas e vividas que o passar pela interpretação humana), seguindo por rodovias com sinalizações diversas, homens, que acreditam ser cada vez mais, propõem-se a construir um sucedâneo – buscando pagar a dívida eterna (ou será simplesmente perpétua?) que temos de ter sido por Ele criados, capacitando-nos pela fé, pelo fanatismo, pela dominação da força criativa, pela racionalidade; enfim, por todos eles e, talvez, por mais alguns, sermos mais do que somos: isto é, pais de Deus.
E por querer ser, saber e poder, o homem radicaliza e mata o seu semelhante, nos túneis do Hamas ou no ataque arrasador de Israel.
E tudo isso porque não praticaram, pelo menos, a lógica lição de Umberto Ecco: “Para um tolerante, é preciso fixar os limites do tolerável”.
Só assim, talvez, acreditando esperançosos em nós mesmos – o que pode ser demais –, se poderia viver em paz.
(Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional – E-mails para carolchiarelli@hotmail.com)