Uma operação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 18 trabalhadores indígenas em condições análogas à escravidão em um alojamento em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. A maioria dos trabalhadores eram da reserva indígena Kaingang, de Benjamin Constant do Sul, e haviam sido contratados por uma empresa terceirizada para a colheita da uva na Serra.
Foram identificados 12 homens e seis mulheres, com idades entre 17 e 67 anos, alguns deles não alfabetizados. No alojamento havia ainda um bebê e uma criança de cinco anos, filhos de trabalhadores.
Segundo o MTE, o grupo estava em um galpão de madeira com canchas de bocha pertencente a uma associação, sem piso adequado, paredes seguras ou cobertura em boas condições. No espaço não havia camas, e os trabalhadores dormiam em colchões espalhados pelo chão.
Condições precárias
De acordo com o ministério, os trabalhadores chegaram ao local no dia 7 de janeiro com a promessa de início imediato na colheita da uva, carteira assinada e pagamento de diárias de R$ 150, além de alimentação e moradia.
Um dos produtores rurais que contratou a empresa terceirizada garantiu que os trabalhadores estavam devidamente registrados, o que parecia coerente para eles por terem feito os exames médicos admissionais. Mas o registro nunca foi efetivado, irregularidade descoberta somente após a dispensa, e as diárias só foram apenas em 20 de janeiro.
Segundo a equipe de fiscalização, os trabalhadores foram contratados e levados a Bento Gonçalves antes que tivesse início a safra no local. A ideia era impedir que eles buscassem trabalho na colheita da maçã. Com a promessa de emprego durante toda a safra da uva, eles foram enganados e dispensados após quase um mês à disposição do empregador, tendo trabalhado apenas em algumas diárias.
Os auditores-fiscais também identificaram a venda de itens que deveriam ser fornecidos gratuitamente aos trabalhadores, como papel higiênico, e ainda por preços superiores aos do mercado.
Terceiro resgate
A empresa prestadora de serviços foi notificada para quitar os valores pendentes e arcar com o retorno dos trabalhadores às suas cidades de origem. No último dia 6, dez trabalhadores voltaram para casa com parte dos pagamentos e as passagens custeadas pelos contratantes, que ainda têm a obrigação de quitar integralmente os créditos trabalhistas de 18 trabalhadores até a próxima semana.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ainda emitirá o seguro-desemprego especial para os trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão, garantindo o recebimento de três parcelas no valor de um salário-mínimo cada.
Este foi o terceiro resgate realizado durante a safra da uva em 2025. No dia 28 de janeiro, Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, quatro trabalhadores argentinos foram resgatados em São Marcos. Poucos dias depois, em 2 de fevereiro, outros nove argentinos foram encontrados em condições análogas à escravidão em Flores da Cunha. (AG)