O empresário Peter Diamandis crê que o avanço tecnológico criará um mundo em que não será preciso trabalhar para sobreviver. O barateamento da energia, da comida, do transporte e da informação permitirá um mundo em que as necessidades básicas poderão ser supridas por uma renda mínima distribuída a todos. O trabalho estaria assim ligado apenas à busca de realização.
Cofundador da Singularity University, escola de negócios do Vale do Silício, o empresário Peter Diamandis busca ensinar empreendedores a usar a tecnologia para enfrentar problemas globais. A instituição estuda tecnologias exponencialmente crescentes e sua capacidade de transformar indústrias e solucionar grandes desafios da humanidade. Ele esteve no Brasil para participar do sétimo Congresso de Inovação na Indústria, que terminou na terça-feira (27), em São Paulo.
O senhor apresenta uma visão muito otimista de nossos tempos. Como ser positivo sem ser ingênuo?
Muitas pessoas tendem a romantizar o passado, acreditando que ele era muito melhor do que foi. Estamos vivendo no que é provavelmente o período mais extraordinário da história. Se observar o último milênio, verá que ele foi marcado por fome, guerra e pragas. (Mas no século passado) o preço da comida foi reduzido à 13ª parte do que era. Hoje, a obesidade mata muito mais do que a desnutrição. Vivemos no período mais pacífico da história, o número de homicídios é muito mais baixo do que há 50 anos, as chances de você morrer de modo violento são 1/500 do que eram na Idade Média. Antes, um vírus poderia matar milhões de pessoas, dizimar metade de um país. Hoje, mesmo a gripe aviária ou a gripe suína matam menos de uma centena de pessoas. Temos todas as razões para sermos otimistas quando analisamos os dados.
O que move transformações?
O mundo não está mudando por termos melhores políticos ou estarmos ficando mais espertos, mas devido às ferramentas e tecnologias que criamos. Temos melhor capacidade de comunicação, poder computacional, ferramentas no campo da biologia, inteligência artificial, robótica. Antes, apenas grandes corporações e governos poderiam solucionar problemas. Hoje, indivíduos têm esse poder. E é isso o que empreendedores fazem.
Como ter certeza de que a tecnologia não será para o mal?
Não podemos ter certeza. Mas, se observar a realidade, verá que ela é usada mais para o bem que para o mal. O problema é que a mídia está constantemente olhando para as notícias negativas. Ela faz isso porque nós evoluímos para prestar dez vezes mais atenção às notícias negativas do que às positivas.
Qual a função de empreendedores e empresas para inovar?
Para mim, para ter um grande avanço de verdade, é preciso tomar muito risco. Antes de se provar realidade, o que existe é uma ideia maluca. Os empreendedores são quem geralmente está disposto a aceitar esse risco, porque eles têm menos a perder. Por outro lado, as grandes empresas podem encontrar essas ideias criadas por empreendedores e torná-las disponíveis para muito mais pessoas.
Como a inteligência artificial vai afetar os empregos?
Não sei exatamente e acredito que ninguém sabe se ela irá criar desemprego. A verdade é que vai destruir trabalhos, algo que estamos sempre fazendo conforme a tecnologia se torna melhor. Mas também inventamos novos trabalhos para substituir os que não existem mais. Então a questão é, vamos criar novos empregos para substituir os que serão perdidos? Talvez. Eu acredito que as pessoas vão atuar em parceria com a inteligência artificial de novas maneiras.
O senhor defende uma renda mínima universal. Qual é a importância da medida?
Isso irá separar ganhar dinheiro para sobreviver de trabalhar. Você terá um trabalho que é aquilo de que gosta de fazer e receberá o dinheiro para pagar sua comida, transporte e saúde a partir de uma renda mínima universal. A tecnologia irá prover melhor saúde e educação, reduzir o custo de energia, de água. Vamos desmonetizar o custo de vida substancialmente. (Folhapress)