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Trama golpista: o motivo de Bolsonaro não ter publicado decreto, segundo um militar

O ex-presidente ficou com receio de ser destituído e preso caso assinasse minuta golpista. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O tenente-coronel Sérgio Cavaliere, integrante do “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”, afirmou em mensagem obtida pela Polícia Federal (PF) que Jair Bolsonaro não publicaria o decreto golpista.

O motivo seria para não arriscar que seu destino fosse o mesmo de Pedro Castillo, ex-presidente peruano que tentou dissolver o Congresso mas acabou destituído e preso.

Diz o militar em áudio:

“E o presidente não vai embarcar sozinho porque pode acontecer o mesmo que no Peru. Ele está com decreto pronto ele assina e aí ninguém vai ele vai preso. Então não vai arriscar”.

A referência era à tentativa de golpe no Peru em dezembro de 2022, ou seja, dias antes da conversa. Segundo a PF, o diálogo em questão é do dia 16 daquele mês.

Interlocutor de Mauro Cid, foi um dos responsáveis por propagar e captar assinaturas de militares para carta com teor antidemocrático, segundo a PF.

A conclusão dos agentes da PF é que o golpe só não se consumou por “circunstâncias alheias” à vontade de Bolsonaro, como a resistência do então comandante do Exército, general Freire Gomes, e à maioria dos integrantes do Alto Comando da Força, formada por 16 generais de quatro estrelas. A maioria do Alto Comando “permaneceu fiel à defesa do Estado democrático de direito, não dando o suporte armado para que o presidente da República consumasse o golpe de Estado”, diz trecho do relatório da investigação.

O relatório da Polícia Federal aponta ainda que o plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes foi cancelado após a cúpula do Exército se negar a aderir à tentativa de golpe.

“Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do alto comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, diz o relatório.

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