Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de abril de 2024
As conversas sobre a sucessão no Banco Central já correm a passos largos e envolvem o presidente Roberto Campos Neto, que vem sugerindo nos bastidores mais tempo para se concretizar a troca de comando na instituição – ou seja, que o anúncio do novo nome seja feito mais cedo. O mandato dele se encerra em 31 de dezembro, na primeira substituição sob o sistema de mandatos fixos no BC, iniciado em 2021. A indicação cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em conversas reservadas, Campos Neto vem defendendo que o sucessor escolhido deve sair a tempo de as sabatinas, feitas pelo Senado, ocorrerem ainda em 2024, o que fixa como data limite os meses de outubro ou novembro. Seus interlocutores, porém, afirmam que o presidente do BC já trabalha com um prazo mais alongado e pretende dedicar todo o segundo semestre para uma transição “suave e colaborativa”.
Na Faria Lima, a troca de comando no BC já é assunto desde o ano passado, quando Lula abriu fogo contra Campos Neto pela elevada taxa de juros em vigor (13,75% ao ano, à época). O início do ciclo de cortes, em agosto, arrefeceu as críticas, que voltaram mais recentemente em falas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do ministro do Trabalho, Luiz Marinho.
O temor dos analistas não se dá tanto pelos efeitos que isso poderia trazer ao atual presidente do BC, mas sobre capacidade do próximo ocupante do cargo de resistir às pressões do Palácio do Planalto e do PT. Campos Neto já demonstrou independência; restará ao sucessor provar a sua ao mercado.
O favorito à sucessão ainda é Gabriel Galípolo, economista que dirigiu o Banco Fator e que chegou à campanha eleitoral de Lula, em 2022, pelas mãos do PT – ele acompanhou Gleisi Hoffmann em eventos com investidores e analistas, como uma espécie de porta-voz econômico da petista.
Na montagem do governo, Galípolo acabou assumindo a posição de número 2 do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não sem antes ter sido cogitado para cargos em voo solo, como a presidência do BNDES.
O contato direto que estabeleceu com Lula, tanto na campanha quanto no governo, gabaritaram o economista para a indicação ao cargo de diretor de Política Monetária do BC, em maio do ano passado, ainda que sua trajetória profissional não tenha proximidade com o tema.
Naquele momento, sedimentou-se em Brasília a análise de que o indicado foi colocado no posto por Lula com vistas à sucessão de Campos Neto. Mas não só isso: como um fiscal da conduta do atual presidente do BC – visto, pelos aliados de Lula, como um bolsonarista infiltrado.
Os acontecimentos que se sucederam – a concordância de Galípolo com as decisões de Campos Neto e da diretoria do BC – não passaram despercebidos aos olhos de setores do PT. Eles se perguntam como “um dos nossos homens” não se opôs ao projeto de autonomia financeira da instituição, que ganhou vida no Senado; nem registrou divergências sobre posições consideradas conservadoras na condução dos juros.
Em entrevista à Folha no início de março, Campos Neto revelou que o apoio à proposta de autonomia financeira do BC é unânime na diretoria. Boa parte do PT já demonstrou ser contra a ideia, que também enfrenta resistência no Tesouro Nacional e no Ministério da Gestão, de Esther Dweck – que veem obstáculos em questões técnicas, como o impacto na dívida pública e em como dar autonomia a uma autarquia com tantas atribuições de Estado.
Um relatório deverá ser apresentado pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM). Campos Neto se envolveu diretamente na discussão do texto, mas vem sendo aconselhado a se distanciar, uma vez que o debate não deve ser concluído no seu mandato. E os eventuais benefícios – ou seja, a capacidade de contratar e reter técnicos de boa qualidade – também ficarão para o próximo presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.