O famoso “WhatsApp ao Povo Brasileiro”, discurso de Michel Temer como se já fosse presidente, nasceu de uma trapalhada entre ele e Gaudêncio Torquato, seu consultor político há 30 anos. Quem diz é o próprio Torquato, que nega a tese de que a divulgação tenha sido proposital –embora ele admita que “no final foi bom, porque ficamos com a imagem de grandes estrategistas”.
Tanto Temer quanto Torquato admitem pouca familiaridade com o mundo digital. Naquele 11 de abril, seis dias antes da votação do impeachment na Câmara, eles se reuniram no escritório do político em São Paulo. O consultor perguntou ao vice: “Se o acolhimento do impeachment acontecer, o que você vai dizer? Pode ser pego de calça curta”.
Como o celular de Torquato tinha pouca bateria, Temer gravou sua fala no próprio aparelho. O discurso ensaiado pelo vice saiu de uma só vez, totalizando 11 minutos. Torquato o alertou que faltava mencionar reformas que faria na sua gestão, e Temer incluiu os planos no discurso. A ideia era enviá-lo para o consultor fazer sugestões. “Como é que faz pra mandar isso, Michel?”, perguntou Torquato. Temer respondeu que também não tinha ideia.
A solução da dupla foi recorrer a um segurança, que se encarregou do trabalho. No caminho para seu escritório, em Moema (zona sul), Torquato recebeu um telefone do vice: “Você mandou isso para o Eliseu Padilha [seu aliado no PMDB]?”. “Claro que não”, respondeu o consultor. “Caiu no grupo do Padilha e já está no ar”, contou Temer.
A dupla especulou que, tentando enviar o áudio para Padilha, Temer se atrapalhou e o encaminhou a um grupo, formado por outros políticos. Um deles vazou a conversa. Ao chegar a seu escritório, Torquato pediu para que a secretária transcrevesse o áudio que recebera. Logo foi informado de que a imprensa já havia publicado o conteúdo. (Folhapress)