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Por Redação O Sul | 27 de setembro de 2019
A autorização para a indústria produzir medicamentos à base da planta da maconha é apoiada por 75% da população brasileira, segundo pesquisa do DataSenado. Outros 20% dos entrevistados disseram ser contra e 5% não souberam ou preferiram não responder. O DataSenado faz pesquisas de opinião pública sobre temas em discussão na Casa. As informações são do jornal Estado de S. Paulo.
A gestão Jair Bolsonaro (PSL) é contra a manipulação da planta no País, mesmo para fins de pesquisa ou produção de fármacos, e defende uma saída mais conservadora: facilitar a importação dos medicamentos, além de permitir uma indústria local que use produtos sintéticos.
O produto sintético, apoiado por integrantes do governo Bolsonaro, não tem autorização para pesquisa e comercialização no País. Para isso, depende de aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A pesquisa do Senado mostra que 79% dos entrevistados defendem que medicamentos à base da planta sejam fornecidos gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde), contra 16% desfavoráveis e 5% que não souberam ou não quiseram responder. O levantamento foi realizado por telefone com 2.400 pessoas de todas as unidades da federação, de 14 a 27 de julho, a pedido do gabinete da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).
Ainda segundo o DataSenado, 87% dos brasileiros sabem que substâncias retiradas da maconha podem ser usadas para tratar doenças, mas apenas 9% conhecem alguém que já usou produtos deste tipo por recomendação médica.
A pesquisa revela que 64% dos entrevistados não defendem que uma pessoa, mesmo com prescrição médica, plante a maconha em casa, contra 31% que apoiam a medida. Nos casos que acham possível o plantio em casa, para tratamentos médicos, 90% dizem que autoridades devem fazer a fiscalização.
Disputa no senado
As diferentes visões sobre como regulamentar a produção da cannabis medicinal do Brasil serão confrontadas nesta quinta-feira (26), quando a CDH (Comissão de Direitos Humanos) do Senado deve votar se converte em projeto de lei uma sugestão apresentada em 2016 pela Reduc (Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos).
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que fez mudanças no relatório, sobre o que previa a sugestão, para evitar qualquer brecha ao uso recreativo, como impedir o plantio em casa (autocultivo). Vieira, no entanto, mantém possibilidade de plantio, desde que monitorado.
“A indústria (que usa cannabis), que existe pelo mundo, não se confunde com o tráfico de drogas. Isso falo com conhecimento de causa por ter atuado durante 20 anos como delegado de polícia”, disse Vieira.
Outro ponto em disputa é sobre a presença do THC nos medicamentos, um psicotrópico que regula os efeitos do produto, segundo a Anvisa, mas que pode “dar barato”, conforme a dose administrada. O governo é contra qualquer resquício da substância.
A opinião do governo será apresentada pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE), forte aliado do ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB). Além de defender o arquivamento da sugestão, em voto separado, o senador apresentou na última semana projeto de lei para permitir uso apenas de produtos com canabidiol como único princípio ativo, ou seja, sem THC.
Para pacientes, a sugestão de Girão pode inviabilizar uso de medicamento como o Mevatyl, já registrado e presente no mercado brasileiro, pois possui a substância psicotrópica.
Girão afirmou que só apoia que se estabeleça no Brasil uma indústria que produza medicamentos “à base exclusivamente do canabidiol e, mesmo assim, de forma sintética”. Ele também disse que não discutiu seu projeto com pessoas do governo e que tem o “único interesse de ajudar essas famílias”.
Senadora usa produto que governo quer banir
A senadora Mara Gabrili usa o produto à base de maconha que o governo quer banir: feito a partir do extrato da planta e com THC presente. Ela conta que teve contato com este tipo de produto após quebrar o pescoço, há 25 anos, e deixar o Brasil para se reabilitar.
“Naquela época já se prescrevia a cannabis medicinal para pessoas com paralisias. Eu mesma fazia uso do medicamento para atenuar dores, espasmos e outras questões decorrentes da tetraplegia”, afirmou.
“Cada caso é um caso. O que serve para um paciente não necessariamente servirá para outro”, afirmou Mara.
Como o canabidiol puro não serviu, a senadora recebeu prescrição para usar o Mevatyl, produto registrado no Brasil que contém também o TCH. Pela visão do governo, o medicamento não deve ser entregue aos pacientes.
Para ela, é preciso estudar como adaptar o processo à realidade do País, que teria até um clima mais favorável ao plantio em locais abertos.
“A maioria das famílias hoje não tem dinheiro para importar o medicamento. E judicializar não é uma solução, pois não atende a todos e só encarece o custo para o Estado”, afirmou.