Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Carlos Alberto Chiarelli | 24 de outubro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
a)Um pouco de lembrança: como tudo iniciou
Nascidos entre as décadas de 30 e 50, argentinos diziam que o seu destino estava escrito nas estrelas.
Tendo estrategicamente se mantido neutra na 2ª Grande Guerra, a Argentina, posto o que alegava, distribuiria para as múltiplas províncias as famílias que vieram colonizar o país de origem, prevalentemente espanhola e italiana, por volta de 1865 a 1880. Eram recebidas com agrado e sem manifestações, sobretudo governamentais que criticassem os seus antecedentes familiares. De qualquer maneira, como regra geral, vencendo os primeiros 2 ou 3 anos, foram obtendo uma capacidade de receber um bom tratamento dos colonos históricos. A palavra que grande parte dela lograra falar e entender era em Espanhol, idioma que, na colonização, também se alargava em futuros países, como Chile, Peru, Bolívia, etc.
O que se tivera de reconhecer institucionalmente foi consequência da presença das Província Unidas do Rio da Prata, que utilizava uma estratégia onde até mesmo alterava seu compromisso de unidade para aproximar-se de maneira absolutamente prática da ação conjunta. Como mais experimentados na arte da política, usaram uma tática que lhes permitia chegar a Buenos Aires, principalmente com seus políticos mais expressivos, os quais, junto com figuras como Sarmento, lograram o prático acordo que contribuiu para um desenvolvimento social melhor do país.
Diga-se de passagem, a Argentina, com todas as crises por que tem passado, praticamente conseguiu estacionar nos índices de analfabetismo entre 6,5 e 7% da população; enquanto nós partimos nos últimos 100 anos de inúmeros estratosféricos 34 a 36%. Com todo nosso empenho, ainda rondamos a casa de 11,5%.
b)A figura de Peron
Hoje, na política, o que se pode dizer é que, em meados da década de 40, surge um elegante militar (com patente de coronel), que passa a ser progressivamente mais notório para a população e que trazia uma mensagem referindo especialmente a figura “del obrero”. Passou a se intitular como porta voz político da liderança nacional, sendo ele Juan Domingos Peron e que, por decorrência, criou o Peronismo. Tal movimento contou com a participação de uma antiga cantora que se fez sua esposa e praticamente dividiu a liderança com o marido. Foram tão generalizantes e avassaladoras as mobilizações que, como ondas de mar pós tsunami, se atiraram, buscando alcançar o espaço que já servira de leito a força dinâmica de uma fúria. Há que se destacar que a figura da esposa, Evita, deu um reforço popular significativo para Peron. No entanto, a ocorrência pouco tempo depois da sua morte (vitimada por câncer), mudou o quadro de lideranças e ideologias argentinas.
c)Processo complexo dos nossos vizinhos
De início, partidos se organizam dizendo quais os nomes que pretendem apresentar para o que se poderia intitular a pré prévia. Há uma espécie de teste eleitoral com esse expediente. Partidos que existem, apresentam seus possíveis candidatos – mais ou menos é questão de estratégia – pois, ao final dessa prática, se tem a condição de saber (pelo menos o eleitor votou e deu pistas) se seria satisfatório tal tática de disputa eleitoral.
Nessa ocasião, os partidos também submetem a lista dos nomes às coligações (que estariam pensando em fazer) para receber a adesão ou repudio.
Ao mesmo tempo, a votação também serve para confirmar ou desmanchar nomes tidos como forças destacadas no voto, que, contados, não o são. Vencida essa etapa, num intervalo médio de 60 dias, as lideranças partidárias podem analisar o caminho que optarão por seguir. Ocorre a verdadeira escalação de equipe. Cada partido lança sua campanha, seu símbolo, sua mensagem prioritária, só ou coligado – principalmente para senador, deputados e, certamente, para o candidato, se tiverem um escolhido para concorrer, à presidência.
Nessa votação, para a época em que se intensifica a publicidade praticamente ilimitada e são múltiplos os comícios e debates, constata-se que, tendo a Argentina vivido tempos largos de abstinência democrática e eleitoral, esse novo tempo se constitui em uma grande atração para o cidadão argentino, conseguindo progressivamente recuperá-lo do abatimento que a política obscura lhe oferecia. Novo tempo de amplas discussões democráticas abriu-se.
d) O povo foi às urnas
Enfim, com a votação, verificou-se que as pesquisas foram confirmadas de maneira parcial pelos resultados numéricos. Milei, o surpreendente, terminou em segundo lugar, com 29,9%; a matriarca portenha de família tradicional, senhora Patrícia Bullrich, chegou à terceira posição, com 24% e o candidato e atual ministro da fazenda declaradamente peronista (num momento no qual se afirma que a inflação anual alcançou 170% – surpreendentemente sendo o membro do governo mais diretamente responsável pela crise e por seus números), chega em primeiro lugar nesse primeiro turno, alcançando por volta de 38%. Trata-se do arquiteto Massa, que foi durante todo o tempo de campanha um emocionado e vibrante defensor do peronismo, afirmando ser discípulo e continuador das ideias do coronel “obrero”.
e) As dúvidas e alternativas continuarão até o segundo turno
Antes de outras análises, registra-se a soma das votações dos 3 candidatos mais fortes, arrebanhando por volta de 92% dos votos. Agora, desses que obtiveram uma votação tão significativa no primeiro turno, não estará disputando o segundo turno a terceira colocada, Patrícia Bullrich. Pelo peso do seu eleitorado, há quem insista que, não concorrendo, não há dúvida que ela é quem vai decidir o segundo turno. É provável que sim, é possível que não. Os seus 24% são a “joia da princesa” do próximo turno. Se penderem uniformemente para um só dos candidatos, este ficará com a faca e o queijo na mão.
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional
E-mails para carolchiarelli@hotmail.com
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